9 de Julho de 2008 às 10:00

Brasil tem peso cada vez maior no lucro mundial do Santander

O Valor Econômico publicou na edição desta terça-feira (8) matéria de sua enviada especial à Espanha, Denise Neumann, informando que o Santander dobrou para 20% sua expectativa de lucro no Brasil em 2008, já considerada a incorporação do ABN/Real. Isso aumenta a participação brasileira no resultado mundial do banco espanhol.
 
Leia a matéria a seguir:
 
Brasil ganha vulto para Santander
 
Denise Neumann, De Boadilla, Espanha
 
O Brasil, a exemplo de outros mercados emergentes, está mais protegido dos efeitos negativos da crise financeira mundial e, por isso, sua parcela de contribuição para os lucros do grupo Santander este ano será maior do que os 10% (€ 10 bilhões) de crescimento estimados para o resultado mundial do grupo. Em dólares, o lucro no Brasil deve crescer 20% este ano já considerando a incorporação do ABN Amro/Real, segundo previsão feita ontem por José Antonio Álvarez, diretor-financeiro e de relações com investidores do grupo.
 
No ano passado, o lucro das duas operações no Brasil somou R$ 4,84 bilhões. Álvarez disse, ontem, que o banco espera que entre 15 dias e 20 dias a operação de incorporação do ABN seja autorizada pelo Banco Central holandês, mas não deu mais detalhes sobre a posse efetiva de Fábio Barbosa, presidente do ABN Real, no comando da operação no Brasil. O executivo só confirmou que no dia 30 de outubro a instituição vai apresentar um plano trianual de investimentos e atuação no País.
 
Entre outras coisas, o plano vai detalhar o processo de integração e deixar mais claro como o Santander pretende obter, na sinergia entre as duas instituições um ganho de lucro de US$ 766 milhões até 2010. Pelas projeções do banco, seus principais concorrentes privados no mercado nacional – Bradesco e Itaú – terão lucros líquidos de US$ 5,27 bilhões e US$ 5,16 bilhões naquele ano. Sem a sinergia, Santander e ABN teriam um lucro somado de US$ 3 bilhões, mas a operação de integração permitirá elevar esse valor para US$ 3,78 bilhões - pouco mais de 25%.
 
Segundo informações do Banco Central, a autorização para a transferência de controle acionário do ABN para o Santander está sob análise. Já a indicação de Fábio Barbosa para presidir o Santander depende de aprovação do BC.
 
As projeções do banco para Brasil e América Latina consideram que a região está gerando novas riquezas financeiras e crescendo acima da média dos países desenvolvidos. Enquanto o ritmo de alta do Produto Interno Bruto (PIB) dos países desenvolvidos vai recuar de 2,7% em 2007 para 1,3% este ano, na América Latina o recuo é proporcionalmente menor, de 5,6% para 4,4%. “O choque de riqueza financeira não afetou a região”, observa o chefe de análise econômica das Américas, José Juan Ruiz.
 
Na avaliação dos executivos do Santander, a crise financeira recente, apesar de ter afetado o valor de várias companhias européias que investem na região, não irão afetar, na mesma proporção, os investimentos dessas empresas em ativos fixos no Brasil e demais países da região. No primeiro semestre deste ano, importantes investidores espanhóis no Brasil registraram pesadas quedas na Bolsa de Valores de Madri. As ações do grupo OHL (investidor em rodovias no Brasil) acumularam queda de 13,65%, enquanto as da Endesa (energia) caíram 20,39% e as da Telefónica, 22,28%, considerando o acumulado no ano até 4 de julho. Brasil, México, Peru, Colômbia e Chile são ganhadores neste momento e o investimento direto para esses países deve se manter elevado, observou Ruiz.
 
O próprio Santander foi bastante afetado, mas menos do que outros bancos europeus e muito menos que os americanos. Em dezembro de 2006, o banco tinha um valor de mercado de € 88 bilhões, capitalização que caiu para € 73 bilhões em 30 de junho, segundo cálculos da instituição.
 
Na mesma comparação, o valor do Citigroup recuou de € 208 bilhões para € 58 bilhões, enquanto para o HSBC a desvalorização foi de US$ 39 bilhões (de € 159 bilhões no final de 2006 para € 118 bilhões em 30 de junho passado).
 
Álvarez avalia que a pior parte dos efeitos negativos da crise financeira sobre os ativos de bancos e empresas já passou, mas novas perdas contábeis ainda podem surgir, porque as quedas decorrentes de operações de empréstimos (no mercado imobiliário ou em outras modalidades de concessão de crédito) ocorrem ao longo do tempo em crises como a atual. Para o diretor da instituição, contudo, o modelo de atuação do banco e seu conservadorismo contábil têm funcionado como barreiras de proteção. “Instituições monolíticas perdem mais”, diz ele, ao mesmo tempo em que lista a diversificação regional e de produtos e clientes do Santander como um bem “precioso”.
 
De acordo com Álvarez, o banco está bem posicionado para crescer e ganhar mercado no Brasil a partir de sua posição atual (ele estima que a instituição detenha entre 12% a 15% do mercado bancário, considerando tanto depósitos como número de agências). A mesma avaliação é feita para a Argentina (9,7% do mercado), como para o México (15% a 16%). A possibilidade de aproveitar a desvalorização dos bancos americanos para entrar forte naquele mercado foi descartada pelo executivo.
 
“Preço baixo na maioria dos casos significa alto risco”, ponderou, lembrando que o mercado está colocando preços tão baixos nos bancos americanos porque duvida que eles obtenham bons resultados nos próximos anos.
 
Em nível mundial, explicou, o Santander está adaptando sua operação para reduzir os impactos da crise. Uma das “adaptações” inclui um crescimento mais equilibrado com menor foco no crédito. Mas esse é um plano mais global do que regional, pois para os países emergentes a intenção é aumentar o volume das operações, fazendo com que elas venham a ter participação superior aos 40% estimados para 2008 (peso da América Latina no resultado global, incluindo a incorporação do ABN no Brasil). No futuro, admitiu, a operação na região pode superar a européia. (colaborou Alex Ribeiro, de Brasília)
 

Contraf-CUT, com Valor Econômico
 

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