16 de Dezembro de 2011 às 01:45
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Durante o primeiro dia do Encontro Nacional dos Dirigentes Sindicais do Itaú Unibanco, na quarta-feira (14), promovido pela Contraf-CUT em Nazaré Paulista, o economista do Dieese, Sergio Mendonça, falou aos sindicalistas sobre a conjuntura econômica, política e social. O início da avaliação foi sobre a incerteza trazida pela crise internacional, não apenas do ponto de vista econômico, mas também político.
O economista abordou a evolução recente do capitalismo nas três últimas décadas, especialmente a desregulação do mercado financeiro, passando pela vitória do neoliberalismo no final dos anos setenta do século passado. Incluiu nessa abordagem a inserção do Brasil no contexto internacional.
Mendonça lembrou que o país, apesar de ser a quinta economia do mundo, ocupa a décima pior colocação em desigualdade de renda. "O país tem a oportunidade histórica de construir um projeto de desenvolvimento. É fundamental compreender esse momento histórico, entender que estamos diante de uma oportunidade única de transformação econômica e social no Brasil".
O movimento sindical terá de fazer apostas estratégicas, em conjunto com outros atores políticos importantes, para viabilizar políticas públicas que reduzam a desigualdade, avalia Mendonça. Citou como exemplo o programa Minha Casa, Minha Vida. "O sucesso no enfrentamento da desigualdade de renda é um fator poderoso para levar o Brasil adiante", afirma o economista do Dieese.
O país continuará passando nos próximos 20 anos pelo que os especialistas em demografia denominam de janela de oportunidade demográfica. Esse período é caracterizado pelo auge do potencial produtivo de um país. Isso significa que a razão de dependência, que é a relação entre a população que estará inserida no mercado de trabalho e a população inativa será a mais favorável.
"É uma oportunidade histórica que deve ser aproveitada. Para tanto é preciso crescer e aproveitar esse potencial produtivo gerando empregos de qualidade e construindo políticas públicas que promovam o desenvolvimento do país", salientou.
O economista ressalta o papel do movimento sindical brasileiro neste momento histórico. "O movimento sindical é um ator político fundamental para propor mudanças ao Brasil. Ele deve se preparar, mobilizar os trabalhadores e viabilizar arranjos políticos para propor políticas públicas que visem o desenvolvimento com distribuição de renda e valorização do trabalho. A educação, por exemplo, é a grande política pública responsável para quebrar o ciclo de pobreza. Por isso a importância de priorizá-la para dar um grande salto de qualidade que deve, sobretudo, assegurar ensino de alta qualidade para as crianças e jovens das famílias de menor renda", afirma.
Emprego e remuneração
Bárbara Vallejos, técnica do Dieese, apresentou e analisou dados sobre Emprego e Remuneração Bancária. "Os bancos se utilizam da rotatividade e ampliação de correspondentes para diminuir seus custos. No Itaú não é diferente", afirma.
No terceiro trimestre, exemplifica a técnica do Dieese, as despesas de pessoal do banco aumentaram 4,1%, apesar de já ter sido provisionado nesse montante o reajuste de 9% referente à Convenção Coletiva. "Isso quer dizer que a rotatividade nesses meses já impactou os ganhos da campanha nacional dos bancários", explica.
Além disso, de março a setembro, houve fechamento de 4.202 postos de trabalho, fazendo com que o número de funcionários da holding passasse de 104.022 em março para 99.820 em setembro. "Essa diminuição pode ser resultado do que eles chamam de 'reestruturação da área de crédito'. O Itaú Unibanco iniciou um duro programa de corte de custos e reorganização interna para atingir o grau de eficiência que seus acionistas esperam", salienta Bárbara.
A meta de Setubal, anunciada ao mercado neste ano, é tornar o banco mais magro do que era antes de 2008, ano da fusão com o Unibanco, o que significa que o índice de eficiência teria de baixar dos atuais 50% para 41% em dois anos. "Enquanto há cortes de funcionários, os gastos com remuneração do conselho de administração do banco cresceram 28,87%", critica Bárbara.
Ao mesmo tempo em que há reduções dentro da holding, o número de correspondentes vinculados ao Itaú ou a alguma empresa do conglomerado cresceu 24% desde dezembro de 2009 e o número de correspondentes autorizados a realizar operações relacionadas a crédito aumentou 37%.
Balanço do Itaú
Cátia Uehara, técnica do Dieese, apresentou os principais resultados do Itaú Unibanco entre janeiro e setembro de 2011. "O ano foi de bons resultados para o banco", afirma Cátia. A técnica do Dieese ressalta os principais dados:
- O Lucro Líquido nos primeiros nove meses do ano de 2011 atingiu R$ 10,9 bilhões (crescimento de 16% com relação ao mesmo período de 2010);
- O Produto Bancário (Margem Financeira + Receitas de Prestação de Serviços + Resultado de Seguros, Previdência e Capitalização) atingiu R$ 54,7 bilhões - crescimento de 12,5%;
- A Rentabilidade do PL foi de 22,4% no período (23,8%, de janeiro a setembro de 2010);
- O Resultado Bruto da Intermediação Financeira cresceu 12,6% atingindo R$ 26,1 bilhões nos nove meses;
- As Despesas de Provisão para Créditos de Liquidação Duvidosa atingiram R$ 14,5 bilhões com crescimento de 22,8% no período;
- Ativos Totais apresentaram crescimento de 22,6% em relação a setembro de 2010, atingindo R$ 837 bilhões no período;
- A Carteira de Crédito atingiu a cifra de R$ 382,2 bilhões em setembro de 2011 - crescimento de 22,8%;
- A Carteira de Títulos e Valores Mobiliários cresceu 33,3%, chegando a R$ 171 bilhões;
- O Patrimônio Líquido da instituição atingiu o valor de R$ 68,2 bilhões, com crescimento de 19% em relação a setembro de 2010;
- Fechamento de 3.867 postos de trabalho entre março e setembro de 2011;
- "Reestruturação" da área de crédito ao consumidor e cartão de crédito;
- Pontos de Atendimento de Correspondente Bancário - maio/2011: 14.912.
Cátia destacou ainda que, enquanto o banco bate recordes de lucro, a despesa de pessoal que mais avançou foi a referente a processos trabalhistas advindos de desligamentos de funcionários. O aumento foi de 121% em relação ao mesmo período de 2010. "Já a remuneração teve uma variação positiva de apenas 6,4%", afirma Cátia.
Outro dado relevante é que, dentre as despesas operacionais, as maiores estão concentradas na rubrica de prestação de serviços a terceiros, ou seja: terceirização. Dentre as contas do resultado nas operações de crédito, estão as operações de cartão de crédito e financiamento de veículos, que também são amplamente terceirizadas. Ou seja, está evidente o esforço do grupo Itaú em diminuir suas despesas operacionais reduzindo o quadro de pessoal próprio e ampliando a terceirização.
"Isso é um absurdo. Diante da alta lucratividade do conglomerado Itaú, no mínimo o banco deveria ter o compromisso social de não só manter, mas gerar melhores postos de trabalho", afirma Carlos Cordeiro, presidente da Contraf-CUT e funcionário do Itaú.
Fonte: Contraf-CUT