Ao contrário do que busca o governo com os constantes aumentos da taxa básica de juros (Selic) nos últimos meses, o crédito não dá sinais de retroceder e seu crescimento será muito pouco afetado neste ano, como estimam as duas maiores instituições privadas do País, Bradesco e Banco Itaú Holding Financeira. Nos resultados semestrais apresentados na segunda-feira, o Bradesco mostrou alta de 38,8% na carteira de crédito em 12 meses e elevou sua previsão para o ano entre 25% e 29%, ante 2007. Ontem, o Itaú apresentou seu balanço, com avanço de 41,3% no saldo de empréstimos na mesma base de comparação, para R$ 148,07 bilhões em junho, e alta de 7,5% em relação ao primeiro trimestre deste ano. A previsão do banco é fechar 2008 com evolução na carteira entre 25% e 30%, com tendência maior para próximo do último percentual, e chegar ao final de 2009 com saldo 25% superior ao deste ano.
“Vamos ter uma leve desaceleração tanto da demanda como da oferta por crédito neste semestre em decorrência das últimas medidas, mas estamos mantendo a previsão para este e o próximo ano”, afirmou o diretor-executivo de Controladoria do Banco Itaú Holding Financeira, que teve lucro líquido consolidado, engordado também pela expansão do crédito, de R$ 4,08 bilhões no primeiro semestre, 1,7% a mais do que em igual fase de 2007.
Os números levam em consideração efeitos extraordinários, como a venda de participação na Serasa no ano passado, por exemplo. Sem tais efeitos, o lucro avançou 6,2%, para R$ 4,05 bilhões. No segundo trimestre deste ano o lucro consolidado foi de R$ 2,04 bilhões, abaixo dos R$ 2,11 bilhões de intervalo idêntico de 2007 também devido aos efeitos não recorrentes.
Conforme o executivo, o crescimento robusto do Brasil, o aumento da renda e da massa salarial, com a redução do nível de desemprego, propiciaram o crescimento dos empréstimos, fatores que mudarão muito pouco até o final de 2009, afirmou. “O nível de endividamento é baixo no Brasil, comparado a outras economias”, ressaltou. Para o Itaú, a Selic encerrará o ano em 14,25%, o Produto Interno Bruto (PIB) ficará entre 4,3% e 4,5% maior, passando a 3,1% em 2009. O dólar chegará ao final de 2008 valendo entre R$ 1,55 e R$ 1,60, e subirá para R$ 1,70 no próximo ano. Carvalho não espera novas medidas do governo para conter o crédito.
A carteira de pessoa física do banco Itaú ficou com R$ 62,27 bilhões em junho, ante R$ 52,9 bilhões ao final de março, e evolução de 38,3% em 12 meses. O destaque, disse Carvalho, ficou por conta da carteira de veículos, com expansão de 61,7% em um ano, para R$ 36,04 bilhões, respondendo por mais da metade do saldo. Esta carteira (alta entre 40% e 45%), as de crédito imobiliário (mais 40%) e das operações com as micro, pequenas e médias empresas (alta entre 35% a 40%) são as que apresentarão maior percentual de crescimento no ano, estima o executivo.
Os empréstimos para as empresa somaram R$ 69,3 bilhões ao final de junho, em relação aos R$ 62,61 bilhões de março, e crescimento de 47,8% em um ano. O crédito para as micro, pequenas e médias empresas saltou 66,2% em 12 meses, a R$ 29,76 bilhões. As grandes tomaram emprestado R$ 39,54 bilhões, alta de 36,4%. Segundo Carvalho, o cenário internacional volátil trouxe de volta para o mercado doméstico as grandes empresas, que buscavam, geralmente, mais recursos lá fora. Essa situação deverá continuar ao longo do ano e a previsão é de alta de 20% na carteira. Na Argentina, Uruguai e Chile a carteira crescerá 30% este ano, prevê. Até junho somou R$ 9,25 bilhões, alta de 28,8%.
A inadimplência também não deverá assombrar os planos dos bancos de crescimento das operações de crédito, na opinião de Carvalho, baseada na qualidade da carteira do Itaú. O índice de inadimplência no banco atingiu 4,3% em junho, comparativamente aos 5,1% de um ano antes.
A busca das grandes empresas por capital no mercado brasileiro favoreceu ainda o Itaú BBA, que ficou em primeiro lugar em diversos rankings (como em originação e distribuição de operações de renda fixa e securitização) no primeiro semestre e lucrou 44% mais em um ano, com R$ 782 milhões, segundo informações pro forma relatadas no balanço. Os ativos totais foram outro destaque, com alta de 34,6% em 12 meses, para R$ 343,87 bilhões em junho. O patrimônio líquido do Itaú subiu 14,3% na mesma base de comparação, ficando em R$ 30,34 bilhões no primeiro semestre. O retorno sobre o patrimônio líquido médio anualizado passou de 32,1% para 27,7% este ano e o índice de eficiência, de 44,9% para 43,6%.
O Itaú, que investiu R$ 1 bilhão em tecnologia no primeiro semestre deste ano, continua com seu forte plano de expansão orgânica e de conquista de novos clientes. O banco atraiu 700 mil novos clientes ativos em 12 meses, sendo 500 mil no primeiro semestre deste ano, e quer mais 500 mil até o final de 2008. Hoje, tem 13,9 milhões de clientes ativos. Nos últimos 12 meses também abriu 134 pontos-de-venda. A ampliação equilibrou as receitas do banco, impactadas pelas novas regras de cobrança de tarifas.
Gazeta Mercantil