30 de Abril de 2013 às 07:33

Minoritários votam contra R$ 364,1 milhões para 46 executivos do Santander

ASSEMBLEIA

 Em assembleia de acionistas do Santander, realizada ontem, dia 29, no prédio da Torre, em São Paulo, dois acionistas minoritários votaram contra propostas do banco, como a previsão da remuneração global anual para o exercício de 2013 de R$ 364,1 milhões para os 46 diretores executivos e de R$ R$ 7,7 milhões para 9 membros do Conselho de Administração, o que representa um aumento de 37,5% em relação ao ano passado.

Os minoritários Ademir Wiederkehr, secretário de imprensa da Contraf-CUT, e Afubesp protocolaram documentos com votos contrários.

"Enquanto o alto escalão é supervalorizado, os milhares de funcionários ganham salários que estão entre os menores do sistema financeiro, sem expectativas de carreira, diante da falta de um Plano de Cargos e Salários (PCS) com regras claras e transparentes para a valorização profissional dentro da empresa", destaca Ademir.

"Desta forma, como pode o marketing do Banco Santander dizer que é o "banco do juntos" se uns poucos ganham milhões de reais por ano e a esmagadora maioria não recebe o suficiente para viver com dignidade? Todos deveriam ter uma remuneração decente!", enfatiza o dirigente sindical.

PDD reduziu PLR dos bancários

Ademir votou contra as demonstrações financeiras do exercício de 2012, "que apontou lucro líquido gerencial de R$ 6,329 bilhões, que corresponde a 26% do resultado global do banco".

"Esse lucro teria sido ainda maior, se não fosse o aumento sem justificativa de 30,11% nas provisões para despesas com devedores duvidosos (PDD), que superaram R$ 14,9 bilhões, apesar de a inadimplência nesse período ter crescido apenas 1 ponto percentual. Essa manobra contábil impactou, consideravelmente, o lucro e reduziu a distribuição de dividendos e o pagamento da Participação nos Lucros e Resultados (PLR) aos funcionários do banco", salienta o diretor da Contraf-CUT.

Corte de empregos

"Mesmo com esse lucro bilionário, o Santander não gerou empregos, andando na contramão da economia brasileira. Ao contrário, o banco dispensou 3.153 empregados sem justa causa em 2012, conforme dados do Caged, fornecidos pelo banco, após solicitação do Ministério Público do Público, durante mediação com a Contraf-CUT, em Brasília", lembra Ademir.

"Além disso, enquanto a média das demissões sem justa causa era de 182 entre janeiro e novembro, o banco despediu 1.153 em dezembro, quase seis vezes mais, significando um crescimento de 533,5%, caracterizando prática de demissões em massa, às vésperas do Natal", enfatiza o diretor da Contraf-CUT.

"Diante dessa onda de demissões e redução de empregos, que prosseguiu no primeiro trimestre deste ano com novo corte de 508 postos de trabalho, o Santander deveria negociar mecanismos de proteção ao emprego com o movimento sindical, a exemplo do diálogo que mantém na Espanha com as entidades sindicais", aponta Ademir.

Juros altos

"Além de emprego decente, o banco deveria ampliar o crédito e reduzir as taxas de juros, buscando ganhar em escala, a exemplo das instituições públicas. Clientes, funcionários e aposentados do banco pagam no Brasil altas taxas de juros e tarifas de serviços, muito superiores às praticadas na Espanha. Por aqui, o banco pratica um spread bancário acima dos padrões internacionais", cobra Ademir.

"Apesar da redução da taxa Selic em 2012, as taxas de juros do banco permanecem muito altas. É o caso, por exemplo, dos juros do cheque especial para funcionários que, hoje, estão em 4,99% ao mês, e dos juros do cartão de crédito para funcionários, que hoje estão em 10,49% ao mês, que são taxas abusivas para quem trabalha dia a dia pelo crescimento do banco", denuncia o sindicalista.

Enrolações e pendências

Ademir também votou contra a destinação do lucro do exercício de 2012, pois "o banco enrolou o movimento sindical e não deu solução para várias pendências com os funcionários da ativa e os aposentados".

Para o dirigente sindical, "o lucro obtido possibilita negociar seriamente com as entidades sindicais e encontrar soluções para o atendimento das justas reivindicações dos trabalhadores, tais como pagamento do serviço passado do Plano II do Banesprev, restabelecimento das regras antigas do ex-HolandaPrevi e eleições democráticas no SantanderPrevi, solução para o passivo trabalhista dos aposentados, fim das práticas antissindicais, reversão das terceirizações, igualdade de oportunidades e acordo marco global.

Representante no Conselho de Administração

O diretor da Contraf-CUT votou contra a eleição dos atuais membros do Conselho de Administrativo, "na medida em que essa instância não possui um representante eleito democraticamente pelos funcionários do banco".

"O ex-presidente Lula assinou lei federal nº 12.353/2010, que determina a eleição de um representante dos funcionários nos conselhos de administração das empresas estatais, públicas e de economia mista, ligadas à União. O Santander poderia ser o pioneiro entre os bancos privados no Brasil e garantir a participação dos trabalhadores no Conselho de Administração. Seria uma forma de transparência na gestão e valorização dos funcionários", defende.

Demora em responder boatos

"Aproveito para manifestar a minha preocupação enquanto empregado do banco, dirigente sindical e acionista minoritário, diante da demora da diretoria do Santander em responder aos frequentes boatos envolvendo a venda do banco no Brasil. Isso causa muita apreensão nos funcionários, provoca dúvidas no mercado, gera incertezas na clientela, prejudica a imagem da instituição e dificulta a realização de negócios para o crescimento do banco", ressalta Ademir.

Mudança na gestão do banco

O acionista minoritário criticou a gestão do banco. "Os bancários querem o fim das dispensas e mais contratações, visando acabar com a sobrecarga de trabalho, qualificar o atendimento de todos os clientes, oferecer bons serviços para a sociedade e melhorar a imagem da instituição no Brasil", aponta.

"Os trabalhadores reivindicam também o fim do assédio moral e da cobrança diária de metas abusivas para a venda de produtos. Muitos funcionários estão adoecendo por causa da pressão constante que sofrem no trabalho. O banco deveria também investir mais em equipamentos de segurança, prevenindo assaltos e sequestros e protegendo a vida de trabalhadores e clientes", salienta Ademir.

"Reitero, mais uma vez, a necessidade de que o Santander mude a sua forma de gestão, negocie seriamente com o movimento sindical para resolver as questões apontadas, como forma de valorizar os funcionários da ativa e os aposentados, o que contribuirá para atingir melhores resultados para os acionistas, agregar valor para a sociedade brasileira e ser reconhecido como um banco que pratica a responsabilidade social e ambiental", conclui.

Os representantes do Santander ouviram a leitura dos votos contrários, mas nada comentaram, limitando-se a votar a favor das propostas do banco.

Fonte: Contraf-CUT

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