7 de Novembro de 2008 às 13:25
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Estão bastante avançadas as negociações para que o Banco do Brasil fique com uma fatia relevante do capital do Banco Votorantim, da família Ermírio de Moraes. Um dos principais entraves ao negócio - a governança - foi superado e há boas chances de que o fechamento seja anunciado nos próximos dias. O maior risco à conclusão é o “fator Bradesco”. O banco com sede na Cidade de Deus ainda corre por fora e pode ter chances de levar o Votorantim, instituição com patrimônio líquido de R$ 6 bilhões e ativos de R$ 73 bilhões.
Se conseguir fechar a operação do Votorantim, o BB estará executando quase que simultaneamente dois movimentos relevantes de consolidação. A esperada compra do banco estadual paulista Nossa Caixa acrescentaria R$ 54 bilhões aos ativos do BB, segundo dados de junho. O banco estatal, também em junho, tinha ativos de R$ 416 bilhões e, somados os números de Votorantim e Nossa Caixa, atingiria R$ 543 bilhões. Com isso, encostaria no novo líder do sistema financeiro brasileiro, o Itaú/Unibanco, que, a partir de dados mais recentes, de setembro, tem ativos estimados em R$ 575 bilhões.
A transação que se desenha com o Banco do Brasil não é de venda do controle. O BB assumiria uma participação muito próxima à metade do capital - algo em torno de 49% -, mas a maioria das ações ainda ficaria nas mãos do grupo Votorantim. Esse desenho agrada aos dois lados, porque a família Ermírio de Moraes conseguiria preservar o negócio bancário. Para o BB, é interessante não estatizar o banco e manter a agilidade e competitividade da instituição, principalmente no que diz respeito à contratação de fornecedores e pessoal. Como estatal, o Votorantim passaria a depender de licitações e concursos. No negócio de banco de atacado, preservar o Votorantim como instituição privada tem a vantagem adicional da flexibilidade de remuneração - bastante engessada no BB e fator permanente de perda de talentos.
Apesar de concordar em vender praticamente metade do capital ao BB, o grupo Votorantim vinha insistindo em preservar o comando exclusivo do banco. Mas o BB estava irredutível nesse quesito e, segundo pessoas que acompanham as conversas, chegou-se a um acordo de comando compartilhado. O preço, entretanto, ainda não está fechado.
E é também no quesito preço que o Bradesco torna-se menos competitivo nesse negócio. Pessoas ligadas ao banco privado admitem que o Votorantim faz mais sentido para o Banco do Brasil, que, por esse motivo, tem condições de pagar um preço melhor. O principal atrativo do Votorantim para o BB é a BV Financeira, especializada em financiamento de veículos, com carteira de crédito de R$ 18 bilhões em junho (número inclui crédito pessoal). O financiamento para compra de carros é um segmento no qual o banco estatal tem grande interesse, ingressou recentemente e possui presença inexpressiva. O Bradesco tem uma carteira grande de veículos dentro da sua própria financeira, a Finasa.
Outro negócio atrativo do Votorantim para o BB é a carteira de clientes de atacado - grandes empresas. Além da BV Financeira e do banco de atacado, o Banco Votorantim tem ainda uma gestora de fundos, que em junho tinha R$ 18 bilhões em recursos administrados, e uma corretora de valores.
Procurado, o Banco Votorantim informou que “não comentaria boatos”. O BB negou as informações e também informou que “não comentaria rumores”.
As conversas com o Banco do Brasil começaram há cerca de duas semanas apenas, depois que o Banco Votorantim sofreu conseqüências da crise financeira no mercado doméstico. Segundo apurou o Valor, o banco sofreu uma espécie de contágio depois que empresas do grupo Votorantim tiveram perdas expressivas com operações de derivativos de câmbio. O banco não estava exposto a essas operações. No entanto, para liquidar suas operações com derivativos, em setembro, as empresas do grupo se utilizaram da corretora do banco. Quando a movimentação da corretora foi percebida pelo mercado financeiro, despertou a desconfiança de que o banco teria estivesse com dificuldades. A percepção equivocada teria levado o banco a sofrer um estresse. Um outro problema para o banco é o fato de sua financeira, assim como outras instituições com atuação no crédito para veículos, ter alongado demais os prazos de financiamento nos últimos tempos. Tal movimento tornou as carteiras mais arriscadas, porque o preço dos automóveis financiados nem sempre cobria o valor financiado.
Vanessa Adachi, de São Paulo, com Graziela Valenti, Ivo Ribeiro e Alex Ribeiro, do Valor Econômico