A Caixa Econômica Federal acelerou a expansão de sua carteira de crédito em outubro, contrariando a orientação do resto do mercado bancário, que se tornou mais seletivo em virtude da crise financeira. O volume de empréstimos contratados com empresas somou R$ 4,5 bilhões, crescimento de 80% em relação à media registradas nos meses imediatamente anteriores.
“A escassez de crédito não existe dentro da Caixa”, disse o vice-presidente de controle e risco do banco, Marcos Roberto Vasconcelos. Ontem, a instituição divulgou um lucro de R$ 722,5 milhões no terceiro trimestre. Até setembro, o resultado acumulado chegou a R$ 3,266 bilhões, alta de 90% em relação ao mesmo período do ano passado.
Mais do que o lucro, porém, o destaque do balanço da Caixa foi o forte avanço no crédito em outubro. Os financiamentos imobiliários contratados no mês chegaram a R$ 2 bilhões, e a expectativa da Caixa é que o volume total emprestado no ano chegue a R$ 22 bilhões, superando em quase 30% a meta para 2008, de R$ 17 bilhões.
Até o ano passado, a Caixa vinha avançando mais lentamente que os seus principais concorrentes no mercado de crédito - com exceção dos financiamentos imobiliários. A carteira com pessoas jurídicas, por exemplo, cresceu apenas 17,7% em 2007, bem abaixo do mercado, que avançou 32,2%. Um amplo programa de reestruturação permitiu que, nos nove primeiros meses deste ano, a Caixa se igualasse aos rivais, com uma expansão de 33,8%.
A crise abriu a possibilidade de a Caixa avançar mais rápido que o mercado. A expectativa é um crescimento de 48% na carteiras de empréstimos livres para empresas. “Fomos procurados por grandes empresas com baixíssimo risco”, relata o vice-presidente de finanças da Caixa, Marcio Percival. Grandes varejistas queriam recursos para fazer estoques para o fim do ano. Mas há sondagens de outros setores. Uma grande empresa, por exemplo, procurou o banco em busca de financiamentos para 40 mil fornecedores, oferecendo seus recebíveis como garantia.
Boa parte das empresas teve cortados os limites em outros bancos, gerando estremecimento em relações que vinham de décadas. A Caixa espera estabelecer vínculos de longo prazo com elas. “Crescemos no crédito à empresa apesar de, até agora, nossa gama de produtos financeiros ser relativamente limitada, sem, por exemplo, crédito à exportação e leasing”, disse a presidente da Caixa, Maria Fernanda Ramos Coelho. “Agora, poderemos preencher essas lacunas”, disse, referindo-se à medida provisória 443, que permite que a Caixa abra subsidiárias, como um banco de investimento e uma empresa de arrendamento mercantil.
No caso do crédito imobiliário, a Caixa avançou principalmente no vácuo criado pela retração dos bancos nacionais. “Os estrangeiros, como o Santander e o HSBC, continuaram a operar como antes”, disse o vice-presidente de governo da Caixa, Jorge Hereda. “Eles têm consciência da importância do crédito imobiliários para estabelecer relação de longo prazo com os clientes”.
A Caixa não considera que coloca seu patrimônio em risco ao avançar mais rápido que os concorrentes. Na visão da Caixa, a aversão à risco explica apenas parte da retração dos bancos privados. O principal problema, dizem os executivos, é a falta de capital e de liquidez para bancar a expansão das carteiras. “Temos capital, um plano de negócios, sólida análise de risco e liquidez para expandir nossa carteira”, diz Marcos Vasconcelos.
Esse último item em especial - a liquidez - é um dos principais diferenciais para a Caixa, afirma o vice presidente de ativos de terceiros, Bolivar Tarragó Moura Neto. Segundo dados do balanço, a carteira de títulos e valores mobiliários da Caixa somava R$ 112,403 bilhões em setembro, e esses recursos podem ser facilmente redirecionados ao crédito. “Os bancos em geral passaram a pagar mais caro para captar em CDBs”, disse Bolivar.
Além de ter uma alentada carteira de títulos públicos, a Caixa se favoreceu da crise porque investidores procuraram a segurança da instituição. Os depósitos a vista, por exemplo, cresceram 29,7% em 12 meses e chegaram a R$ 11,449 bilhões em setembro. As captações em caderneta de poupança cresceram 24,2% em 12 meses, chegando a R$ 88,463 bilhões.
A Caixa tem, também, um confortável nível de capitalização. O chamado índice de Basiléia fechou em 19,4% em setembro, bem acima do mínimo de 11% estabelecido pela legislação, o que garante uma folga para ampliar em cerca de R$ 80 bilhões a carteira de crédito do banco.
O lucro do terceiro trimestre equivale a uma rentabilidade de 37,2% sobre o patrimônio liquido anualizado. Houve queda em relação aos lucro de R$ 1,670 bilhão ocorrido no segundo trimestre. Isso se deve exclusivamente a efeitos extraordinários que aumentaram o lucro do segundo trimestre, como a ativação de crédito tributários (R$ 714 milhões) e reversão de provisões feita no período (R$ 202 milhões). O resultado da intermediação financeira ficou em R$ 3,064 bilhões no terceiro trimestre, número bem parecido com os US$ 3,067 bilhões do período imediatamente anterior.
Alex Ribeiro, do Valor Econômico