13 de Outubro de 2008 às 11:29
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O governo federal e o Banco Central repetem que os bancos brasileiros estão capitalizados e não correm risco de serem atingidos pela crise financeira deflagrada a partir dos Estados Unidos. Mesmo assim, tomaram diversas medidas nas últimas semanas que já injetaram R$ 60 bilhões para aumentar a liquidez no mercado.
Como já estavam sólidos e ainda receberam essa ajuda do governo, o Banco do Brasil, a Caixa Federal e os grandes bancos privados estão comprando carteiras de crédito de instituições menores.
O governo federal, além disso, adotou outras iniciativas para capitalizar empresas e proteger o capital.
É justo que o governo federal se preocupe com a solidez do sistema financeiro e com a liquidez no mercado, para atenuar os efeitos da crise. Mas é inaceitável a diferença de tratamento que o governo dispensa aos bancos e aos trabalhadores do sistema financeiro.
Os bancários estão em greve em todo o País porque os bancos - inclusive os públicos, em que o governo é o principal acionista - se recusam a atender as reivindicações salariais dos trabalhadores, mesmo sendo o setor mais lucrativo da economia.
Se os bancos estão sólidos e têm liquidez, como aliás comprovam os seus balanços, por que então não apresentam proposta para atender seus empregados? E por que o governo federal, tão solícito em proteger o capital, mantém a intransigência na negociação com os bancários das instituições públicas?
Há praticamente um consenso na sociedade de que a crise poderá atingir o comércio exterior brasileiro, em razão da redução do crédito no mercado internacional, o que torna necessário o fortalecimento do mercado interno para manter o nível de crescimento da economia.
E o que significa fortalecer o mercado interno? Aumentar o nível de empregos e valorizar os salários, para manter aquecida a capacidade de consumo e de produção. Esses foram os principais fatores que sustentaram o alto crescimento da economia brasileira nos últimos anos.
Os bancários estão em greve porque querem recompor o poder de compra dos salários e têm direito à sua parte no aumento da produtividade do setor. O retorno sobre o patrimônio líquido do Sistema Financeiro Nacional segue sendo o maior do mundo. Além disso, os banqueiros e o governo, além de se negarem até agora a dar aumento real de salários e uma participação nos lucros justa, já distribuíram milhões de reais aos seus acionistas e administradores. Falta agora a parte de quem produziu de fato, os bancários.
A Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf/CUT) não aceita que os bancos mais uma vez sejam privilegiados pelo governo sem uma contrapartida social e às custas da sociedade e de seus trabalhadores.
A greve seguirá forte porque é uma greve justa. Os bancários esperam que o governo e os banqueiros tirem do papel a sua retórica de responsabilidade social e atendam às reivindicações dos trabalhadores, que são os verdadeiros responsáveis pela solidez dos bancos com seu trabalho diário.
Vagner Freitas
Presidente da Contraf/CUT e coordenador do Comando Nacional dos Bancários
Contraf/CUT