22 de Outubro de 2008 às 19:27
Os bancários construíram uma fantástica campanha nacional unificada e realizaram uma das mais fortes e organizadas greves da categoria nos últimos anos.
Foi a grande participação dos bancários de todos bancos, públicos e privados, que permitiu a sustentação da greve durante 15 dias em todo o país - e de 23 dias em alguns Estados - e forçou a Fenaban a abandonar sua postura intransigente e avançar na melhoria da proposta apresentada no início desta madrugada, após inúmeras e tensas rodadas de negociação.
Outro fator decisivo para o êxito da greve foi a unidade que os sindicatos souberam construir em todo o país nos bancos públicos e privados, desde o início da campanha, com a discussão da pauta de reivindicações, até a organização e sustentação da paralisação.
Essa unidade se refletiu no Comando Nacional dos Bancários, que teve a maturidade e a habilidade de conduzir a campanha em 148 bases sindicais diferentes, com representação de forças políticas com diferentes matizes de pensamento, canalizando a pressão da categoria sobre a mesa de negociação da Fenaban e das mesas específicas dos bancos públicos.
O êxito da campanha ganha relevância se considerarmos que ela foi travada em um cenário difícil da conjuntura nacional e internacional. A greve começou em meio ao tsunami da crise financeira iniciada nos Estados Unidos, que se espraia por todo o planeta, gerando insegurança e incertezas quanto ao futuro da economia global. Durante todo o processo de negociação os bancos acenaram com o fantasma da crise para endurecer sua posição e justificar a intransigência, dificultando um desfecho mais rápido da campanha.
Os bancos também empregaram todo o seu poder econômico e político junto aos poderes executivo e judiciário para tentar derrotar a categoria. Mais uma vez em conluio com a justiça, se valeram fartamente dos famigerados interditos proibitórios para impedir o direito constitucional de greve e tentar quebrar financeiramente os sindicatos com as multas exorbitantes autorizadas por muitos juízes. De positivo, é importante ressaltar que inúmeros magistrados país afora deram a interpretação correta a esse instrumento e se recusaram a conceder ou derrubaram pedidos de interditos proibitórios dos banqueiros.
Com seu poder político, os bancos também usaram a polícia militar de vários Estados - principalmente no Rio Grande do Sul - para reprimir com violência a greve dos bancários. E mais uma vez empregaram a velha e ultrapassada justiça do trabalho contra uma greve legítima dos trabalhadores.
Orientado pela Fenaban, em São Paulo o Ministério Público do Trabalho entrou com dissídio de greve contra o Sindicato de São Paulo e contra a Feeb SP/MS. Dias depois, a própria Fenaban pediu ao TRT-SP a inclusão da Fetec São Paulo e da Contraf/CUT no dissídio de greve, solicitando multa diária de R$ 200 mil reais pela continuidade da greve. E esta semana os bancos tentaram abrir dissídio no TRT do Distrito Federal, que no entanto se considerou inapto e remeteu a petição ao TST.
O Comando Nacional dos Bancários repudia mais uma vez a interferência descabida da justiça do trabalho em um conflito entre trabalhadores e patrões, em que ela não deve se imiscuir e historicamente sempre agiu para beneficiar os empresários. O Comando também repudia a postura dos bancos, tão pródigos no discurso ideológico anti-Estado, mas que se valem de uma instituição arcaica da era Vargas contra um direito legítimo dos trabalhadores assegurado pela Constituição.
Apesar de todos esses obstáculos, a greve dos bancários foi muito forte e unitária em todo o país, forçando os bancos a melhorarem a proposta na mesa de negociação. Embora não atenda a todas as reivindicações, por causa da força da mobilização da categoria a proposta da Fenaban apresentada nesta madrugada contém avanços importantes: aumento real, valorização dos salários mais baixos, num reconhecimento da importância da participação de quem mais participou da greve, quebra da regra básica e aumento na PLR.´
Isso demonstra o acerto da estratégia da busca da unidade nacional que vem sendo trilhada desde 2003, período em que a categoria acumulou aumento real e elevou significativamente a PLR, além de outros direitos.
Quanto aos dias parados (compensação até 15 de dezembro), o Comando Nacional defendeu até o limite a anistia completa dos descontos. Só não foi possível por causa da postura extremamente intransigente da Caixa Federal.
O Comando Nacional reafirma que a greve é o instrumento mais importante que os trabalhadores possuem para defender seus direitos, que deve ser usado não como um fim em si mesmo, mas como arma de pressão para atingir os objetivos. E com a responsabilidade que tem na condução da campanha, na preservação da unidade nacional e das conquistas da categoria, o Comando avalia que chegamos ao limite do que é possível arrancar na mesa de negociação da Fenaban e das questões específicas do Banco do Brasil.
Por isso, o Comando Nacional orienta os sindicatos a realizarem nesta quarta-feira assembléias separadas dos bancários dos bancos privados, do Banco do Brasil e da Caixa Federal. E que defendam a aprovação das propostas da Fenaban e do Banco do Brasil, não apreciação da proposta da Caixa e continuação da greve no banco federal. O Comando Nacional chamará uma nova negociação com a Caixa para discussão da pauta específica e da PLR, com novas assembléias amanhã.
Comando Nacional dos Bancários
São Paulo, 22 de outubro de 2008
Link: https://seebcgms.org.br/campanha-salarial-2008/comando-indica-aceitar-proposta-da-fenaban-e-do-bb-e-continuar-a-greve-na-caixa/