21 de Outubro de 2008 às 00:42
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Depois de 11 anos de trabalho no Disque-Real, sempre batendo - e às vezes superando - as metas e servindo de modelo para os novos empregados, Aline nunca esperou ser demitida sob alegação de não se adequar ao perfil desejado pela empresa. Mas foi esta a justificativa para sua demissão. Não por coincidência, Aline foi uma das funcionárias que participaram da paralisação das atividades do Disque-Real no último dia 09.
A paralisação do Disque Real no dia 09 foi a única atividade da greve dos bancários no call center do banco, já que há muitas dificuldades para a organização do movimento no local. O principal obstáculo à adesão dos funcionários do atendimento telefônico é a intensa pressão das chefias, que levam temor aos empregados. Mas, naquela manhã, uma ação coordenada dos sindicatos do Rio de Janeiro e de São Paulo criou o caos no atendimento telefônico do banco.
Na capital carioca, os dirigentes sindicais chegaram ao prédio por volta de 7h30. Os funcionários dos turnos das 6h e das 7h já tinham entrado, mas a maioria do pessoal das 8h em diante não entrou. Aline fazia o turno de 8h às 14h. Quando a paralisação terminou, por volta de 15h40, Aline e alguns colegas foram embora. Outros funcionários do mesmo turno subiram apenas para bater o ponto. No dia seguinte, sexta-feira, Aline trabalhou normalmente, folgou no sábado, teve turno no domingo e na segunda-feira, dia 13, no meio do turno, sua supervisora a procurou e lhe comunicou a demissão.
Segundo informações de Fátima Guimarães, dirigente do Seeb-Rio e funcionária do Disque-Real, os empregados que subiram já no final do turno após a paralisação foram duramente repreendidos pela supervisora do horário. Mas a única demitida foi Aline, nenhum dos outros funcionários que, como ela, não entraram, foi punido com mais do que uma reprimenda.
“Alegar que um funcionário excelente, com 11 anos de dedicação ao banco não tem perfil é achar que somos idiotas. Um excelente funcionário é mais importante para a empresa que um gestor medíocre,” defende a sindicalista.
A alegada incompatibilidade de perfil não se justifica. Segundo Fátima, na data da demissão, 13 de outubro, Aline já tinha superado em 50% a meta de um dos produtos e alcançado 60% da meta de outro. Seu Tempo Médio de Atendimento - TMA era maior que o estipulado pelo banco. “Mas nenhum funcionário consegue realizar todas as operações e ainda vender produtos no TMA determinado, a média é bem mais alta e Aline estava nesta média”, relata Fátima Guimarães.
Além disso, Aline não tem nenhum erro registrado em sua ficha, nunca foi alvo de reclamação de clientes e, em 11 anos de banco, nunca teve uma falta injustificada ou afastamento por doença. “Ela era o modelo dos novos funcionários e dos estagiários. Os recém-contratados ficavam ao lado dela, observando-a trabalhar, para aprender o serviço. Como uma funcionária como esta não se encaixa no perfil que o banco deseja? A demissão de Aline foi, sem dúvida, uma represália à sua participação na greve e um exemplo para que outros funcionários não participem do movimento”, analisa Fátima.
A demissão de Aline foi decidida por sua superiora direta, a supervisora do turno, mas nenhum gestor da empresa questionou esta decisão, nem mesmo a coordenadora do Disque Real. O banco pode até alegar que não estimula este tipo de conduta de seus funcionários em cargos de chefia, mas não faz nada para impedir que estas irregularidades aconteçam.
Vale lembrar que a Lei de Greve (Lei n º 7.783, de 28 de junho de 1989) no parágrafo único do artigo 7º determina que é proibida a rescisão do contrato de trabalho durante o período em que durar a greve. A Federação registrou denúncia contra o Banco Real junto ao Ministério Público do Trabalho na última segunda-feira em função da demissão de Aline. O próximo movimento é denunciar o banco junto à Comissão dos Direitos Humanos da Assembléia Legislativa.
Contraf/CUT