6 de Setembro de 2011 às 10:38

Campanha Nacional 2011: saúde não interessa aos bancos

São Paulo - “Não acredito que as metas sejam causadoras de todos os males.” “O setor bancário não está nem de longe entre os que mais têm problema de adoecimento.” “Humilhação tem a ver com a postura de alguém, não da empresa.”

Frases como essas, proferidas pelos negociadores da federação dos bancos (Fenaban), deram o tom à rodada de negociação iniciada nesta segunda-feira 5, a segunda da Campanha Nacional Unificada 2011, que debateu o fim das metas abusivas, o adoecimento dos trabalhadores, o assédio moral, as condições de trabalho. A reunião continua nesta terça-feira 6, sobre o tema segurança.

O descaso dos representantes dos bancos com a saúde de seus funcionários ficou evidenciado também pela recusa em colocar um freio na cobrança por metas abusivas. O Comando Nacional dos Bancários demonstrou a relação entre as metas e o crescente adoecimento dos trabalhadores por meio de dados cientificamente apurados. As pesquisas do Sindicato e da Contraf-CUT foram feitas por institutos especializados e com acompanhamento de médicos do trabalho. No entanto, as informações foram desqualificadas pela Fenaban, que duvidou da “metodologia”.

“Sugerimos, então, a realização de uma pesquisa conjunta. Eles ficaram de pensar, querem criar um protocolo próprio para isso”, relata a presidenta do Sindicato, Juvandia Moreira, uma das coordenadora do Comando. “Conhecemos a realidade dos bancários e seja qual for o método utilizado para apurar, a situação que se apresenta é grave, e é isso que queremos resolver. A Fenaban, no entanto, não trata o assunto com a devida seriedade.”

O próprio INSS aponta que a categoria bancária é uma das que mais adoece. Os níveis são epidêmicos e as principais causas são movimento repetitivos, que resultam em LER/Dort, e transtornos mentais.

Exagero? – A afirmação do Comando, com base em pesquisa da Universidade de Brasília, de que tem bancário tão doente que chega ao desespero de cometer suicídio foi classificada pela Fenaban como “exagero”. Mas o estudo feito entre 1996 e 2005 apurou junto ao Ministério da Saúde que 181 bancários cometeram suicídio, numa média de um a cada 20 dias. “Eu quis verificar se um fator social – as pressões no ambiente de trabalho – poderia contribuir para desencadear transtornos mentais de tal gravidade que as pessoas perdiam a vontade de viver”, explicou ao site da UnB o pesquisador Marcelo Finazzi, mestre em Administração e autor da dissertação Patologia da Solidão: o suicídio de bancários no contexto da nova organização do trabalho.

Na mesma entrevista, o autor destacou: “Falta o cumprimento da legislação trabalhista, metas de produção condizentes com a capacidade física e psicológica dos funcionários, assim como o treinamento dos gestores para lidar com os conflitos. O suicídio tem sido o desfecho trágico de muitos trabalhadores que sucumbem às violências do trabalho”.

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Lista – O Comando dos Bancários cobrou o fim das listas individuais de metas, que expõem os trabalhadores. “As metas são muito altas e quem não performa é demitido”, diz Juvandia. A Fenaban informou que a orientação deles é para não publicar. “Se tem orientação de não publicar ranking nenhum, então vamos colocar na convenção para evitar abusos”, cobrou Juvandia. A Fenaban ficou de levar a discussão à direção dos bancos, mas já adiantou que considera isso uma das muitas questões de “gestão” sobre as quais não aceita “ingerência” dos trabalhadores.

Caixas – Os representantes dos bancos não quiseram discutir a reivindicação de que não haja metas de venda de produtos para os caixas. “Novamente disseram que isso é uma questão de gestão e que não aceitam ingerência nossa. Um absurdo, já que expõe esse funcionário a uma tarefa que não faz parte de suas funções e ainda atrapalha o trabalho”, destaca Juvandia.

Assédio moral – Foi feito um destaque positivo ao Instrumento de Combate ao Assédio Moral, conquistado na campanha do ano passado e que tem conseguido resolver alguns problemas. Ficou acertado que a próxima reunião de avaliação deve acontecer ainda durante a Campanha. “Para nós bancários é necessário discutir a origem do problema. Queremos que os bancos invistam em campanhas que esclareçam sobre a necessidade de acabar com o assédio moral nos locais de trabalho”, explica a presidenta do Sindicato.

Licença-maternidade – A reivindicação é de que a extensão conquistada em 2009 seja automática, para que as bancárias não sejam pressionadas a não fazer a opção. A Fenaban informou que de 90% a 100% das funcionárias dos grandes bancos têm feito a opção pelos 180 dias. “Queremos deixar claro que a licença-maternidade de seis meses é um direito e se tiverem dificuldade devem procurar o Sindicato”, salienta Juvandia.

Afastado – O Comando ressaltou, ainda, a necessidade de o empregado afastado por motivo de saúde ter isonomia de direitos além da garantia, quando do seu retorno, da mesma função que exercia, sem redução do salário. Para a Fenaban, isso está fora de possibilidade.

A presidenta do Sindicato explica que, diante de todas as recusas dos negociadores dos bancos, o Comando cobrou, então, qual a proposta para melhorar as condições de trabalho dos bancários. “Eles querem remeter todos os debates para a mesa temática de saúde, mas quando chega lá, fazem o mesmo e afirmam que tudo é gestão e nada pode ser discutido. Para nós bancários, ao contrário, tudo tem de ser discutido. Quase 70% dos trabalhadores apontam o fim das metas abusivas como prioritário. Trabalhar em banco adoece muito. É esse quadro que queremos e vamos mudar. Os bancários têm de estar mobilizados por seus direitos.”

Segurança – A mesa de negociação continua nesta terça-feira. Entre as principais reivindicações, a instalação de mais equipamentos de prevenção contra assaltos e sequestros, melhoria da assistência médica e psicológica às vítimas da violência e insegurança nos bancos, bem como a proibição do porte das chaves de cofres e do transporte de valores por bancários.

Calendário – Por alteração na agenda da Fenaban, a rodada de negociação que estava marcada para 13 de setembro será realizada na segunda-feira 12.


Fonte: Cláudia Motta - SEEB SP

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