18 de Abril de 2017 às 10:22

Meritocracia e assédio moral: uma realidade perigosa

Abuso

Comecemos pela origem etimológica: meritocracia deriva da junção de dois termos “meritum” do latim, “mérito”; e o sufixo “cracia” que significa “poder”, em grego. Numa tradução literal, “poder do mérito”.

A palavra pode soar inofensiva, e até lógica do ponto de vista moral. Algo como “honra ao mérito”, reconhecimento/recompensa por mérito. Porém, por trás dela há um sentido bem mais profundo a se analisar. Quando, no contexto corporativo, esse princípio é utilizado como ferramenta de gestão, ou mesmo no social, quando serve para justificar as profundas diferenças entre classes, tudo muda de figura.

A meritocracia é largamente utilizada em empresas privadas em todo o mundo com a seguinte compreensão: os bons resultados são consequência dos méritos individuais de alguns trabalhadores e, portanto, esses devem ser o parâmetro para a progressão funcional e motivo de premiações e outras formas de “reconhecimento”.

Esse raciocínio é, no entanto, simplista. É preciso levar em conta, em primeiro lugar, que a produção se dá de forma coletiva, é resultado do esforço de uma equipe e, portanto, o reconhecimento individualizado é sempre injusto e desagregador.

Por outro lado, os parâmetros para se julgar o mérito, sempre padecerão da subjetividade de quem é encarregado de proceder a avaliação. É comum em muitas equipes de trabalho, ao ser substituída a chefia, trabalhadores antes considerados improdutivos, passem a ser valorizados, e vice-versa.

Finalmente, quando se adota a ferramenta meritocracia, não se considera as diferenças individuais e muito menos as oportunidades diferenciadas que cada um teve em sua história de vida. Há a tendência de nivelar as pessoas, considerando como indicadores algumas habilidades mais desenvolvidas em uns do que em outros, esquecendo-se que muitas tarefas realizadas ao longo de uma jornada são menos visíveis, mas nem por isso deixam de ter importância, muitas vezes são tão estruturantes que, sem sua realização, não se chegaria aos resultados obtidos.

A meritocracia torna-se assim mais um instrumento nos locais de trabalho a contribuir com a deterioração dos ambientes, acirrando a competição entre colegas e aprofundando o individualismo, ao mesmo tempo em que faz aumentar a pressão por produtividade; ingredientes altamente favorecedores do assédio moral e da violência organizacional.

A administração da Caixa, não é de hoje, tem declarado explicitamente que em seu planejamento estratégico 2012-2022 adotou a meritocracia como mecanismo de ascensão dos empregados na carreira, classificando-os em níveis segundo seu desempenho para efeito de promoção e premiação. Porém o que não é explicitado, mas transparece nas entrelinhas, é que na mesma medida em que os melhor avaliados serão premiados, os que ocuparem as últimas posições sofrerão punições. Trata-se do programa que recebe o pomposo nome de GDP, Gestão de Desempenho de Pessoas, mas que, na verdade, é mais uma dessas imitações do que se pratica no mercado como forma de aumentar a exploração dos trabalhadores.

Desmonte

A Caixa vem sofrendo um desmonte acelerado, como todas as demais empresas públicas. Nesse processo, atacar os empregados é um dos pilares estratégicos, haja vista a drástica redução de pessoal, cujo quantitativo, ao encerrar o recente programa de demissão voluntária (PDVE), deverá atingir algo em torno de 90 mil, sendo que ao final de 2014 era 101 mil.

A combinação explosiva de mecanismos perversos de ascensão (e descenso) na carreira e a redução de pessoal tornam os ambientes cada vez mais hostis, com sobrecarga de trabalho e aumento da pressão, proliferando o assédio moral e outras formas de violência institucional. A consequência disso, para além do comprometimento das políticas públicas, das quais a Caixa é um dos principais agentes, é o crescimento dos índices de adoecimento mental dos empregados.

Reverter esse estado de coisas somente será possível com o envolvimento determinado dos empregados, respaldados por suas entidades representativas: Fenae e Apcefs, Contraf-CUT e sindicatos, em todo o Brasil. A Fenae abre seus canais de comunicação para o debate sobre o tema e também disponibiliza o e-mail [email protected] para o envio de dúvidas, relatos e denúncias.

Fonte: Fenae

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