3 de Setembro de 2008 às 23:16

Bancos aumentam as tarifas, apesar das novas normas do Banco Central

Os bancos continuam aumentando as tarifas que cobram dos clientes, apesar das mudanças impostas pelo Banco Central para disciplinar a cobrança. Reportagem publicada nesta quarta-feira, 3, pelo jornal Folha de São Paulo sobre levantamento do BC a partir dos balanços dos 101 bancos brasileiros, mostra que o sistema financeiro faturou R$ 14,4 bilhões com prestação de serviços no segundo trimestre de 2008, o que é 6% maior que igual período do ano passado e 2,3% em relação ao primeiro trimestre do ano.
 
Leia abaixo a matéria completa da Folha, assinado por Ney Hayashi da Cruz.
 
Bancos mantêm ganhos com tarifas
 
Receita cresce apesar de regulamentação que impõe limite na cobrança de serviços, segundo pesquisa do BC
 
Ney Hayashi da Cruz
Da sucursal de Brasília
 
Mesmo com as regras mais rígidas impostas pelo governo, o faturamento dos bancos com a cobrança de tarifas bancárias se manteve em alta no segundo trimestre deste ano. Entre abril e junho, o faturamento do setor com a prestação de serviços a seus clientes foi de R$ 14,4 bilhões, um crescimento de 2,3% em relação ao primeiro trimestre e de 6,0% na comparação com o mesmo período de 2007.
 
Os números estão em levantamento feito pelo Banco Central nas demonstrações financeiras dos 101 bancos que operam no Brasil. No primeiro semestre, a receita obtida com a cobrança de tarifas -tanto de empresas quanto de pessoas físicas- somou R$ 28,5 bilhões, 7,5% a mais do que nos primeiros seis meses do ano passado.
 
No final de abril, entrou em vigor nova regulamentação do CMN (Conselho Monetário Nacional), que coloca alguns limites na cobrança tarifas. De lá para cá, os bancos estão impedidos, por exemplo, de cobrar a TAC (Tarifa de Abertura de Crédito) e taxas mensais de manutenção de conta corrente.
 
As regras um pouco mais rígidas não impediram que os ganhos das instituições financeiras continuassem a crescer. No segundo trimestre, o setor bancário teve lucro de R$ 13,2 bilhões -alta de 17,2% ante o segundo trimestre de 2007. Entre janeiro e junho deste ano, o resultado ficou em R$ 25,6 bilhões, 27,6% a mais do que no mesmo período de 2007.
 
Luis Miguel Santacreu, analista da consultoria Austin Ratings, diz que ainda é cedo para medir o impacto total que as novas regras do CMN terão sobre os balanços das instituições financeiras, mas que a medida só terá efeito se for acompanhada por uma mudança de atitude por parte dos clientes.
 
“Houve tentativa de disciplinamento [na cobrança de tarifas], mas tudo depende da reação do correntista. Tem gente que não acompanha com atenção o que os bancos cobram”, diz Santacreu, ressaltando que, no Brasil, a concorrência no setor não é muito grande, o que facilita os reajustes.
 
“Os bancos também podem compensar os limites das tarifas com o aumento de clientes ou com a prestação de novos serviços. Também podem compensar com alta nos juros”.
 
Os números do BC mostram que o resultado apurado pelos bancos com as operações de intermediação financeira – que incluem tanto a negociação de títulos públicos como a concessão de empréstimos – cresceu mais que o faturamento com tarifas neste ano. No segundo trimestre, esses ganhos somaram R$ 29,9 bilhões, valor 11,2% maior que em 2007.
 
Pesquisa feita pelo BC mostra que, entre janeiro e junho, os juros médios cobrados num empréstimo bancário passaram de 37,3% para 39,4% ao ano, e a expectativa é que o movimento de alta continue por causa do aumento da taxa Selic.
 
Mas o aumento no resultado da intermediação financeira dos bancos também pode ser explicado pela expansão da carteira de crédito do setor financeiro nos últimos meses. Ao final de junho, o total de empréstimos disponíveis no país estava em R$ 1,068 trilhão (+33%).
 

Principais números do setor
 
1º tri/2008
2º tri/2008
Receita com a prestação de serviços
R$ 14,119 bilhões
R$ 14,436 bilhões
Resultado da intermediação financeira
R$ 28,528 bilhões
R$ 29,898 bilhões
Lucro líquido
R$ 12,344 bilhões
R$ 13,232 bilhões
Ativos totais
R$ 2,391 trilhões
R$ 2,509 trilhões
Número de agências
18.426
18.728
Número de funcionários
550.466
550.810
 
Contraf/CUT, com Folha de São Paulo
 

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