10 de Outubro de 2008 às 12:07

FMI sugere que socorro a bancos deve incluir investidor privado

WASHINGTON - Governos interessados em reerguer os bancos de seus países com injeções diretas de capital terão mais sucesso se conseguirem convencer investidores privados a fazer a mesma coisa e deixarem bem claras as condições em que irão se retirar das instituições financeiras beneficiadas quando as coisas se acalmarem, afirmou ontem o Fundo Monetário Internacional (FMI).
 
" A escala da intervenção precisa ser adequada para que os recursos públicos tenham efeito catalítico e atraiam capital privado " , disse em entrevista ao Valor o primeiro subdiretor-gerente do Fundo Monetário Internacional, John Lipsky, o número dois na hierarquia da organização. " Não se deve presumir que haverá necessariamente uma transferência do controle das instituições financeiras beneficiadas para os governos. "
 
Planos de socorro ao sistema financeiro lançados nos últimos dias pelos Estados Unidos, Reino Unido e Itália permitem que esses países ajudem a recompor as reservas de capital dos bancos com investimentos diretos dos governos, que em troca poderiam receber ações preferenciais das instituições beneficiadas e outras garantias.
 
Medidas desse tipo eram consideradas extremas demais pelas autoridades para serem sequer cogitadas até poucos dias atrás, mas o aprofundamento da crise financeira e as pressões dos bancos estão fazendo os governos mudar de idéia.
 
"Uma coisa que você aprende em Wall Street é que nunca se deve dizer nunca" , afirmou Lipsky, que em 2006 deixou o cargo de vice-presidente do banco de investimentos JP Morgan para trabalhar no Fundo Monetário Internacional.
 
Ninguém tem ainda uma idéia muito clara de como esses planos serão executados. O pacote britânico prevê o uso de até 50 bilhões de libras para injetar capital diretamente nos bancos ingleses. A Itália e os EUA não especificaram a parcela dos seus planos de estabilização financeira que poderá ser usada com essa finalidade. Os critérios para escolha das instituições que receberão apoio são desconhecidos.
 
Em setembro, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) assumiu o controle da seguradora AIG ao receber 80% das suas ações em troca de um empréstimo de US$ 85 bilhões.
 
Nesta semana, o Federal Reserve anunciou que precisará emprestar mais US$ 38 bilhões para ajudar a AIG a manter seus compromissos em dia.
 
Na entrevista ao Valor, Lipsky disse que os governos devem expor com clareza os objetivos desses investimentos e a maneira como eles serão desfeitos mais tarde, quando os bancos não precisarem mais do governo como sócio. " É preciso ter uma estratégia de saída coerente, que impeça movimentos precipitados que poderiam perturbar os mercados depois " , disse Lipsky.
 
Os esforços dos governos até aqui têm se concentrado na necessidade de tirar de circulação os papéis podres que estão na origem da crise de confiança que há semanas travou os mercados de crédito no mundo inteiro.
 
No início da crise, a maioria das autoridades acreditava que isso seria suficiente para eliminar as desconfianças dos investidores sobre a saúde dos bancos e estabilizar o sistema.
 
A percepção de que será preciso dar outros passos ganhou força nos últimos dias, quando vários países europeus começaram a adotar medidas semelhantes às postas em prática nos EUA.
 
Um fator importante por trás das pressões que os governos têm sofrido é a competição entre os bancos. Muitas instituições baseadas na Europa temem perder clientes se seus concorrentes passarem a ser considerados mais seguros por causa do apoio oficial que receberem.
 
Para Lipsky, o risco de que os vários planos de socorro ao sistema financeiro criem vantagens competitivas para determinados bancos é um exemplo do tipo de problema que pode ser evitado se houver mais coordenação entre os países avançados no combate à crise. " É cedo para saber que forma o sistema financeiro terá depois que esta crise passar " , afirmou o diretor do Fundo Monetário Internacional. " Mas é importante assegurar que a competição continue. "
 

Ricardo Balthazar, do Valor Econômico
 

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