5 de Dezembro de 2008 às 11:30
Em um discurso de 45 minutos repleto de metáforas, Lula ilustrou sua “campanha” pelo consumo com a história de um paciente.
“Imagine se um de vocês fosse médico e atendesse um paciente doente. O que você falaria para ele? ‘Você tem um problema, mas a medicina já avançou demais. Vamos dar tal remédio e você vai se recuperar’. Ou você diria: ‘Meu, sifu’ [corruptela da expressão vulgar ‘se fodeu’]”.
Na transcrição do discurso no site da Presidência, a frase foi reproduzida desta maneira: “Meu, (inaudível)”.
Lula falou da crise no lançamento do Fundo Setorial do Audiovisual, no Palácio Gustavo Capanema, no Rio. Em tom ora irônico, ora revoltado, o presidente comparou a relação entre Estado e mercado à de pai e filho.
“Era preciso vender todas as empresas do Estado, mandar muito funcionário embora, aumentar tempo do trabalhador no trabalho, porque se aposenta com pouco tempo, e daí afora. O Estado não vale nada, só gasta. (...) Filho de 16 a 21 anos não precisa de pai nem mãe. Eles são onipotentes. Querem sair quando quiserem. Querem todo o dinheiro da gente e, por mais que a gente dê, acha que é pouco. Ou seja, o Estado é careta, não sabe de nada, não é moderno, não gosta de funk, rap... Filho, quando tem dor de barriga, gripe, não tem dinheiro, volta para casa. O que aconteceu com o famoso mercado onipotente? Quando o mercado tem uma diarréia, quem eles chamaram para salvá-lo? O Estado que eles negaram durante 20 anos”.
Ao incentivar o consumo na crise, Lula disse que trabalhadores serão demitidos se pararem de comprar. “Você tem o trabalhador da fábrica, que está ouvindo falar em crise. Ele fala: ‘Não vou comprar um carro porque posso perder meu emprego. Se eu perder o emprego, eu estou ferrado’. Precisa alguém dizer que ele vai perder o emprego exatamente por não comprar. (...) Às vezes eu me sinto como o dom Quixote, sozinho tentando pregar um otimismo de uma coisa muito prática, que é fazer a economia girar”.
Ítalo Nogueira, da Folha de São Paulo
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