26 de Janeiro de 2010 às 09:56

Fórum Social Mundial começa em Porto Alegre com avaliação dos 10 anos

Crédito Foto: Carlos Edier


O Fórum Social Mundial (FSM) 10 anos - Grande Porto Alegre teve início na manhã desta segunda-feira, dia 25, com uma cerimônia na Usina do Gasômetro, na capital gaúcha.


Após soliedariedade com o Haiti, que sofreu um terremoto no dia 12 de janeiro, foi formada a mesa de abertura, com a participação do representante do governo federal, o secretário de articulação social, Wagner Caetano; o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Ivar Pavan (PT); o prefeito de Porto Alegre, José Fogaça; a representante da Abong e do Fórum Social Mundial 2009, Aldalice Otterloo; a representante do FSM 2011 no continente Africano, Taoufik Ben Abdallah; além de prefeitos das cidades da região metropolitana que participam do Fórum e representantes das entidades.


Os cinco integrantes da mesa foram unânimes em afirmar que desde sua primeira edição, em 2001 - inaugurada em Porto Alegre, o Fórum Social Mundial produziu importantes discussões e ações que transformaram políticas neoliberais em vitórias da cidadania como a derrota da ALCA; o despertar da consciência ecológica e do desenvolvimento sustentável como política pública; o combate as desigualdades; revigoramento das instituições e organizações, da autonomia e auto-organização do povo, sem depender dos governos institucionais.


Sob vaias, os organizadores leram uma mensagem em carta da governadora Yeda Crusius, que não prestigiou a abertura. O FSM articula movimentos sociais, redes, ONGs e outras organizações da sociedade civil.


Balanço dos 10 anos

Após a abertura, foi realizado o Seminário "Fórum Social Mundial - Balanço de 10 anos", refletindo sobre os fatores positivos e negativos do evento desde sua criação, em 2001, em contraponto ao Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suiça.


Coordenado por Salete Camba, o balanço contou com as participações de Lílian Celiberti (Articulación Feminista Marcosur - Uruguai), Raffaella Bollini (ARCI - Itália), Oded Grajew (Cives e Movimento Nossa São Paulo), Nandita Shah (National Network of Autonomous Women's Groups (Índia), João Pedro Stédile (MST), Olívio Dutra (ex-governador gaúcho), Cândido Grzybowski (Ibase) e Francisco Whitaker (CBJP).


- O Fórum surgiu no contexto do claro domínio da expansão da globalização neoliberal. Éramos tido como loucos, mas não fomos nós que construímos a crise. O Fórum tinha razão - afirma o sociólogo Cândido Grzybowskio, diretor do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômica (Ibase) e um dos fundadores do FSM.


Em sua manifestação, Francisco Whitaker, representante de Comissão Brasileira de Justiça e Paz no Secretariado e no Conselho Internacional do Fórum Social Mundial, destacou que a iniciativa mobiliza a sociedade, comportando experiências anteriores e estabelecendo alianças. "Ajudar a construir a união com mais força na luta contra o sistema. Este é o objetivo mais específico do Fórum Social Mundial", salientou Whitaker.


Ele observou que em 2007, o FSM atraiu metade dos participantes de 2005, em Porto Alegre. Segundo Whitaker, este sentimento de esvaziamento aliado a um certo cansaço gerou a sensação de que o Fórum já havia cumprido seu papel, para deixar que a ação direta contra o sistema ocupasse o seu lugar.


O intelectual disse ainda que o FSM enfrenta uma das maldições que pairam sobre a esquerda mundial, que é a divisão. "Estamos longe de abrir praças em todo o mundo. Há muitas áreas do planeta onde a proposta do fórum nem chegou, ou chegou apenas a grupos restritos. De fato nós aproveitamos ainda muito pouco das potencialidades do processo do Fórum Social Mundial".


Uma das participações foi a do coordenador da Via Campesina, o gaúcho João Pedro Stédile, também fundador do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST).


- Contribuímos para derrotar o neoliberalismo, não como política, mas como ideologia para enterrar o que eles (americanos) diziam ser o fim da história - disse.


Para Stédile, o FSM ajuda a lembrar que o neoliberalismo não é a única forma de governo possível. "Derrotar o neoliberalismo como forma de salvação para os mais pobres é um dos objetivos deste fórum. É difícil fazer um balanço de dez anos em apenas dez minutos, mas é fundamental lembrar que este espaço já nasceu na coletividade, e assim permanecerá", acredita.

Ao fazer um balanço de 10 anos, Grajew lembrou que o FSM é um espaço de mobilização e discussão, que facilita o encontro entre setores sociais, que devem atuar em rede para avançar, principalmente na questão ambiental.


- Se a gente não mudar o modelo de desenvolvimento, a espécie humana corre risco de extinção neste século. Nenhuma organização sozinha consegue ir além de determinados limites desafios que hoje são globais.


Construção coletiva

Segundo Grajew, esta é a grande sacada: a mobilização em conjunto.


- Não tem causa mais importante. Levo adiante a missão da reforma agrária. Quero ter parceiros, gente e organizações que possam ajudar também na questão feminista, na economia solidária.


Para Grajew, a importância do FSM consiste em dar voz à sociedade civil organizada.


- Quando surgiu o FSM, há 10 anos, fazia-se a pergunta: como é que a sociedade civil tem a possibilidade de levar adiante sua missão e seus objetivos? Cada um de nós, cada organização é muito frágil, é muito pouco diante da tarefa que temos pela frente. Os desafios hoje são planetários, são globais. A sociedade civil organizada não conseguirá levar adiante suas necessidades se estiver sozinha. A idéia do FSM é dar uma possibilidade de fortalecimento da sociedade civil, a ponto de viabilizar seus objetivos.


O secretário de Relações Internacionais da CUT, João Felício, ressaltou que o grande diferencial do Fórum sempre foi o ineditismo da idéia, pois nos anos 70, 80 e 90 não havia espaço para esse tipo de debate, além de ser um espaço para todo mundo.


- Essa idéia deu tão certo que já estamos comemorando 10 anos de FSM. O nosso Fórum deu muito certo, ao contrário do Fórum de Davos, que não foi capaz de prever a crise financeira que enfrentamos, coisa que falávamos há bastante tempo. Nós sempre questionamos o estado mínimo e a política neoliberal.


Na opinião de Felíco, para aumentar ainda mais a unidade do FSM, seria importante elaborar uma plataforma com as questões sociais tratadas no Fórum para balizar as ações dos movimentos sociais. "A reflexão é fundamental, mas é necessário mobilização de massa, por isso colocar tudo no papel seria importante. Teríamos uma unidade maior dentro da nossa diversidade", acredita o dirigente.


Felício encerrou sua participação na avaliação de 10 anos do FSM, falando da necessidade de se olhar para o futuro e de construir um projeto de unidade.


- Aqui tem gente que pensa o mundo de uma maneira solidária. Esse evento possibilita que conhecemos as diversas realidades da nossa sociedade. O Fórum é um grande projeto de unidade e só por isso já é sucesso.


Para o ex-governador e atual presidente do PT/RS, Olívio Dutra, o Fórum "é uma grande oficina que reúne a diversidade e a pluralidade de ideias que têm o compromisso de reafirmar as políticas sociais em contraponto ao capital dominador".


- O FSM tem vida própria, mas precisa afirmar uma centralidade sem centralismos, e deve continuar atendendo o pluralismo instigador da participação popular que sempre foi sua marca.

Fonte: CUT-RS com ZH e Terra

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