27 de Novembro de 2008 às 22:19
Essa brecha existia na versão original da reforma, apresentada em março pelo Executivo. No entanto foi suprimida pelo relator do projeto na Câmara dos Deputados, Sandro Mabel (PR-GO), cujo texto foi aprovado na semana passada em uma comissão especial e deve ter a votação iniciada no plenário da Casa até a próxima semana.
A reforma prevê a fusão do IR das pessoas jurídicas e da CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido), dois tributos que incidem igualmente sobre os ganhos das empresas. O segundo, porém, pode ter alíquotas diferenciadas, conforme o setor de atividade econômica -hoje, para os bancos e outras instituições financeiras, é de 15%, enquanto a maior parte das grandes empresas paga 9%.
Para não perder essa fonte extra de arrecadação, que rende algo como R$ 3 bilhões anuais, o projeto do governo sacrificava parcialmente a intenção de simplificar o sistema tributário e previa que o IR poderia “ter adicionais de alíquota por setor”. Partidos aliados mais identificados com o empresariado, como PMDB, PR e PP, porém, resistem à proposta, por entender que o enunciado pode abrir brechas para um aumento da carga tributária.
Para Ricardo Barros (PP-PR), vice-líder, as alíquotas diferenciadas podem ser restabelecidas de outra forma, com um texto menos genérico ou pela criação posterior de uma nova Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico), a exemplo da existente sobre os combustíveis.
Esse não é o único tema de divergência na base governista em torno da reforma, que sofre ainda a oposição dos governadores de São Paulo, José Serra, e Minas Gerais, Aécio Neves, ambos potenciais candidatos do PSDB à sucessão de Lula.
O Executivo rejeita a pressão encabeçada pelo PMDB para a abertura de um novo programa de parcelamento das dívidas tributárias das empresas -o quinto desde 2000. Pelo entendimento firmado entre os partidos, uma nova proposta, menos ambiciosa, deverá ser incluída pela Câmara em uma próxima medida provisória referente à área tributária.
Também há resistências, na área econômica, à prorrogação por 20 anos dos benefícios da Zona Franca de Manaus, incluída na reforma na votação da semana passada. Como o lobby da ZFM é forte no Congresso, o governo tende a conseguir, no máximo, um prazo de prorrogação menor.
Os Estados mais pobres rejeitam a isenção de ICMS para a cesta básica, também incorporada ao texto na semana passada. Como se trata de medida de apelo popular, um meio-termo terá de ser negociado.
Em uma reunião com poucas chances de êxito, os governistas tentarão hoje um acordo com os oposicionistas PSDB, DEM e PPS, que ameaçam obstruir todas as votações da Câmara se houver a tentativa de votação imediata da reforma.
Gustavo Patu, da Folha de S. Paulo
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