23 de Julho de 2025 às 11:06

Impactos da IA são irreversíveis e exigem participação de trabalhadores para transição segura

Emprego

Hoje é impensável descartar a tecnologia e seus impactos no mercado de trabalho. Um estudo da empresa PwC aponta que, só no Reino Unido, a inteligência artificial (IA) pode criar 2,7 milhões de empregos líquidos, até 2037.

Já outro estudo conduzido pela LCA 4Inteligence, considerando 435 ocupações no Brasil, destaca que 31,3 milhões (de um universo de 103,2 milhões de ocupações no país) serão afetadas, em maior ou menor grau, pela IA. Em entrevista ao jornal Valor Econômico, o responsável pela pesquisa da LCA, Bruno Imaizumi, explicou que a maior probabilidade é que ocorra  "transformação dos empregos" e não "automação total" na maioria das ocupações, isso porque elas ainda exigirão a intervenção humana.

Por outro lado, das mais de 31 milhões de vagas afetadas, 5,5 milhões correm o risco de sofrerem automatização completa, sendo 4 milhões relacionadas à ocupação de escrituário geral: profissionais que executam tarefas administrativas e que dão suporte em processos burocráticos.

Portanto, a chegada da IA e outras formas de tecnologia no mercado de trabalho aponta para três cenários concomitantes: (1) criação; (2) transformação; e (3) eliminação de ocupações.

Qual ou quais desses cenários atingem em maior ou menor grau o ramo financeiro? E como se preparar para essas mudanças com o objetivo de proteger os trabalhadores? Essas são algumas das questões que o Comando Nacional dos Bancários levará para a “Negociação Nacional Bancária sobre Novas Tecnologias, como a IA, e a Atividade Bancária”, prevista para a próxima segunda-feira (28).

Impacto da tecnologia no emprego bancário

Em março deste ano, a Febraban divulgou que 80% dos bancos já incorporaram a IA em suas operações: em 2024, os bancos brasileiros investiram R$ 42,3 bilhões em tecnologia e, em 2025, a expectativa é que esse volume aumente em 13% em relação ao ano anterior, alcançando R$ 47,8 bilhões.

Já um relatório mais recente, produzido pelo Dieese com base em dados do Caged, mostra que, no primeiro trimestre de 2025, foram eliminadas 1.197 vagas no setor bancário formal, número 67,8% superior ao registrado no mesmo período de 2024. Em 12 meses, esse corte foi mais expressivo: 7.473 postos a menos, sendo que, só em março, 1.111 vagas bancárias foram extintas.

Por outro lado, os bancos apresentaram aumento de contratação na área de Tecnologia da Informação (TI): em 12 meses foram criadas 1.842 vagas.

“Nos últimos anos, temos discutido com os bancos essa movimentação, que aponta para um fortalecimento das áreas de TI nos bancos. Essa atuação do movimento sindical bancário gerou algumas conquistas importantes, em 2022, na Convenção Coletiva de Trabalho (CCT), como a mesa permanente ‘Negociação Nacional Bancária sobre Novas Tecnologias’ e o comprometimento dos bancos em investir na formação e requalificação de trabalhadores na área de TI, com destaque para bolsas de estudo exclusivas para mulheres”, explica Juvandia Moreira, coordenadora do Comando Nacional dos Bancários e presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Ramo Financeiro (Contraf-CUT).

A dirigente ressaltou que discutir a questão de gênero nesse processo de ascensão das novas tecnologias é fundamental porque as mulheres estão entre as mais afetadas com essas mudanças. O trabalho da LCA 4Intelligence, por exemplo, destaca que as mulheres têm duas vezes mais chances de serem expostas à IA generativa, por estarem mais concentradas nas ocupações que sofrem maior risco de automação, como áreas administrativas e de atendimento ao cliente.

Já, em relação a queda de emprego no setor bancário, 66,5% das 1.197 vagas fechadas no primeiro trimestre de 2025 correspondiam a vagas que antes eram ocupadas por mulheres. Ao mesmo tempo, na área que mais cresce nos bancos, a de TI, houve uma redução da proporção de mulheres de 31,9%, em 2012, para 25,2%, em 2024. O que significa que, para cada quatro trabalhadores na área de TI dos bancos, apenas um é mulher.

Redução da jornada

Entre as propostas do movimento sindical para equilibrar os ganhos da automação digital nos bancos com os trabalhadores está a redução da jornada de trabalho.

“O que estamos vivenciando neste momento com a IA é comparável aos impactos da máquina à vapor, à energia elétrica, computação e internet, talvez, só que de uma forma mais acelerada. Portanto, não é a primeira vez, para a humanidade, que o trabalho sofreu impactos dos avanços tecnológicos. Como as gerações passadas conseguiram superar esses desafios? No século XX, por exemplo, ocorreu o fim das escalas abusivas nas fábricas. E hoje podemos repensar, novamente, a redução semanal da carga horária para evitar a concentração de renda, em benefício de toda a sociedade”, ressalta Juvandia Moreira.

Ela completa que, neste debate, o que está em jogo não é só a proteção de empregos de uma categoria, mas a conscientização política sobre as mudanças que estão por vir e que poderão determinar se haverá ou não escalada na concentração de renda no mundo e, com isso, um aprofundamento da pobreza. "Esses são temas que já estão sendo discutidos em fóruns internacionais que participamos, representando o movimento sindical brasileiro, promovidos por entidades como a Organização Internacional do Trabalho (OIT)”, salientou a presidenta da Contraf-CUT.

Ela conclui reforçando que as vantagens competitivas trazidas pela IA precisam ser compartilhadas por toda a sociedade. “Para isso temos que desenvolver estratégias múltiplas e que incluem (1) capacitação de trabalhadores, (2) redução da jornada de trabalho e (3) participação da sociedade nos debates sobre o desenvolvimento dessas tecnologias que afetam a vida de toda a humanidade de forma irreversível”, pontua.

Por: Contraf

 


 

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