23 de Junho de 2015 às 08:46

Instituto Lula discute os desafios da democracia

"Novos Desafios da democracia"

O Instituto Lula realizou nesta segunda-feira (22) a conferência "Novos Desafios da democracia", seguida de debate com o ex-primeiro-ministro da Espanha Felipe González, do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE). O evento foi organizado pelo Instituto Lula, em parceria com a Fundação Perseu Abramo e a Fundação Friedrich Ebert.

O presidente da Contraf-CUT, Roberto von der Osten, foi convidado pelo Instituto Lula para participar do encontro. Também foram convidadas a vice-presidenta da Contraf e presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Juvandia Moreira, e a secretária-geral do Sindicato, Ivone Silva.

Os participantes do debate avaliaram que, na conjuntura atual, com onda de protestos em todo o mundo, há um indicador de que a democracia enfrenta dificuldades para gerar mais justiça social e inclusão. Nessa perspectiva, Felipe Gonzáles disse ser importante conhecer o logos (o conhecimento) do outro. "O mundo precisa conversar. O contrário, é o monólogo. E a crise da democracia representativa tem raízes profundas. Existe uma globalização e uma transformação da sociedade em sociedade de mercado. Isso, alterou a governança da sociedade de bem-estar que havia na Europa", afirmou o ex-primeiro ministro.

"Isso é um fruto da revolução tecnológica que mudou a relação tempo e espaço entre humanos. A relação entre pessoas hoje é em tempo real. Pela primeira vez se pode fazer essa comunicação em tempo real. Foram eliminadas todas as barreiras de tempo e espaço. O mundo teve um salto científico enorme e foram destruídas as fronteiras físicas. Mas isso ajudou a universalizar fenômenos sociais, econômicos e políticos para os quais não temos resposta", acrescentou González.

Segundo ele, a globalização hoje permite que as decisões dos Estados nacionais sejam tomadas fora, o que altera a soberania. "É uma realidade nova e universal irreversível. O espaço Estado-Nação se alterou para um fenômeno supranacional global. A globalização é uma ferramenta do imperialismo para controlar os Estados. O Norte desenvolvido do mundo, em relação ao Sul em desenvolvimento, vetorizou a globalização, controlando algo em torno de 70% do PIB do mundo".

Porém, de acordo com Felipe González, nos últimos 15 anos, o Leste e a América Latina cresceram de forma espetacular. "E a economia da globalização se financeirizou e se descolou da economia real. A economia da globalização dá prioridade aos fluxos financeiros e distribui mal a renda. Passa a controlar o fluxo de capital para condicionar as economias nacionais."

LULA

Durante a conferência, o ex-presidente Lula disse que, durante anos, as esquerdas "se trancaram em suas verdades". Também disse ver as esquerdas definharem na Europa.

Para Lula, a maior oposição hoje no Brasil é a mídia, representada "por nove famílias que controlam os meios de comunicação". Por isso, ele disse ser importante procurar e usar os meios alternativos de comunicação. Também considerou cômodo o papel de um oposicionista. "É muito fácil ser oposição. A oposição pode achar coisas. Já o governo tem de fazer coisas", observou.

Lula conclamou os movimentos sociais e a juventude a exercerem um papel de influência na sociedade. Disse que não existe a possibilidade de mudar as coisas "se os que podem mudar, de fato, não entrarem em cena".

Na avaliação do ex-presidente, o maior legado de seu governo foi o exercício da democracia, o que o levou até a receber críticas por promover o assembleísmo. "Mas (o governo) organizou 74 conferências nacionais para discutir políticas públicas", ressaltou.

O representante no Brasil da Fundação Friedrich Ebert, Thomas Manz, considerou a democracia um processo frágil, sempre diante de um risco de retrocesso. "E autopreservar-se é um desafio permanente".

Kjeld Jakobsen, diretor da Fundação Perseu Abramo, também ressaltou que a democracia está ameaçada pelo capital financeiro, que tem o poder de gerar crises políticas. "O Cone Sul está sozinho no mundo tentando criar um estado de bem-estar social e, por isso, está sob ataques. Basta ligar a TV para ver", observou. Para Paulo Okamoto, presidente do Instituto Lula, o exercício da democracia se tornou mais complicado hoje, principalmente a partir das redes sociais, "porque existem tantas opiniões, mas muito superficiais".

PAPEL DA DEMOCRACIA

Após o debate, o presidente da Contraf-CUT, Roberto von der Osten, disse ter ficado no ar uma pergunta sobre o que a democracia pode/deve fazer quando uma parte quer se sobrepor ao todo. "Se a democracia é um projeto inacabado e sob risco permanente de retrocesso - e por sua natureza precisa respeitar a vontade e buscar e bem-estar de todos -, o que se deve fazer quando o Judiciário está criminalizando um partido? Quando a mídia é unilateral e quando um Congresso conservador vota leis contra os trabalhadores? Quais os limites da democracia para se autopreservar, sob ataques, sem deixar de ser democracia?", questionou Roberto.

Fonte: Contraf-CUT

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