9 de Dezembro de 2014 às 07:51

Monumento homenageia mortos e desaparecidos na ditadura em São Paulo

Obra do arquiteto Ricardo Ohtake fica em frente ao Parque Ibirapuera

G1 

O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), inaugurou na tarde desta segunda-feira (8), em frente ao Parque do Ibirapuera, na Zona Sul de São Paulo, um monumento em homenagem aos mortos e desaparecidos do regime militar. A obra projetada pelo arquiteto Ricardo Ohtake tem seis metros de altura por 12 de comprimento e traz os nomes das vítimas do período.

"Muitos órgãos de repressão se instalaram na região do Ibirapuera. É, talvez, o parque mais visitado da cidade de São Paulo. Então é um gesto importante, lembrar o que aconteceu num período recente da história do Brasil e afastar completamente qualquer possibilidade de que a nossa liberdade esteja comprometida", disse o prefeito Fernando Haddad durante o evento de inauguração.

A ministra-chefe da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, Ideli Salvatti, também discursou e criticou atos que defendem a intervenção militar. "Pode ter os desinformados, os que não têm conhecimento do que foram aqueles 21 anos, mas com certeza tem muito mal-intencionado de querer novamente impor ao povo brasileiro o sofrimento de uma ditadura", disse a ministra.

Resgatar a memória e a verdade

Ideli disse que o monumento "resgata a memória e a verdade" sobre o período. "Todo esse resgate é de fundamental importância para aqueles que não vivenciaram o momento. Resgatar a memória, a verdade e fazer justiça é de fundamental importância, principalmente para as novas gerações", assinalou.

Um dos nomes é o de Antônio Raymundo Lucena, pai de Adilson de Oliveira Lucena. "Meu pai tombou em combate no dia 20 de fevereiro de 1970, em Atibaia [São Paulo]. Ele está desaparecido até hoje. Não conseguimos recuperar os restos mortais, uma das lutas da família", contou Adilson, que também foi preso político e viveu exilado em Cuba.

Segundo ele, o pai era militante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) e desapareceu após tiroteio em Atibaia. Adilson ainda espera que os torturadores sejam punidos pelos crimes. "Eles têm de pagar pelo que cometeram." Para Adilson, o momento é de resgate da história do país para as novas gerações. "É um símbolo para todos aqueles que lutaram pela democracia.", disse ele, referindo-se ao monumento.

Outro nome inscrito no monumento é o de David Capistrano da Costa, que militava no Partido Comunista Brasileiro e está desaparecido desde 1974. "Ele desapareceu em Uruguaiana, no Rio Grande do Sul. Desde então, nunca tivemos notícias dele", informou sua filha, Cristina Capistrano.

Para ela, o pai foi preso em Uruguaiana, levado para São Paulo e, depois para o Rio de Janeiro. "Talvez o corpo tenha sido incinerado na Usina de Cambaíba, em Campos, no Rio de Janeiro, após a passagem dele pela Casa da Morte, em Petropólis", ressaltou. Cristina também destaca a importância do monumento no resgate da "memória dos acontecimentos e da ditadura militar" e para "para que a população, principalmente a mais jovem, saiba o que ocorreu".

"O monumento é um marco histórico e também um compromisso de que a luta continua, porque a Comissão Nacional da Verdade não informará onde estão os corpos e quem os matou e nem responsabilizará os que mataram. Portanto, a luta continua", afirmou, por sua vez, a ex-presa política Maria Amélia Teles,, integrante da Comissão Estadual da Verdade de São Paulo e membro da Comissão de Familiares dos Mortos e Desaparecidos.

Obra

O Monumento em Homenagem aos Mortos e Desaparecidos Políticos é formado por chapas brancas com os nomes de 436 mortos e desaparecidos políticos de todo o País, segundo o registro dos familiares. Outras chapas disformes representam as diferentes trajetórias dessas pessoas.

O artista e arquiteto Ricardo Ohtake é autor de outro monumento sobre o tema, instalado no Cemitério Dom Bosco, em Perus. No local, foi encontrada em 1990 a vala clandestina com mais de mil ossadas de desaparecidos políticos.

Protestos de moradores

Enquanto Haddad falava, algumas pessoas que vivem na região do Parque dos Búfalos protestaram contra aprovação de um empreendimento imobiliário no local. Eles pediram uma audiência pública, com a presença do prefeito, para discutir o projeto. Os manifestantes informaram que o empreendimento, se for construído, destruirá o meio ambiente e as nascentes do Parque dos Búfalos.

Haddad adiantou que audiência será na próxima segunda-feira (15). Moradores da Favela do Moinho também protestaram durante a inauguração do monumento e cobraram a presença do prefeito na área. Eles reivindicaram instalação de redes de luz, água e esgoto e a reocupação organizada do terreno. Haddad comprometeu-se a visitar o local na próxima semana.

Participação

Também participaram da inauguração do monumento Paulo Vannuchi, da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) e o secretário municipal de Direitos Humanos, Rogério Sottili, além de vereadores, deputados e membros das comissões municipal e estadual da Verdade.

Fonte: Agência Brasil e G1

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