19 de Outubro de 2011 às 08:40

Protesto em São Paulo cobra juros baixos, mais empregos e maior produção

O ato "Por um Brasil com juros baixos, mais empregos e maior produção" reuniu centenas de lideranças de trabalhadores e empresários em frente ao Banco Central nesta terça-feira, dia 18, na Avenida Paulista, em São Paulo. Os manifestantes saíram em passeata de um hotel nas imediações, onde foi realizado um debate entre lideranças sindicais, professores e economistas.

De acordo com o presidente da CUT de São Paulo, Adi dos Santos Lima, "é preciso investir na produção, não na especulação". "Lutamos por uma taxa civilizada de juros para que o nosso país possa seguir em frente, com mais salário, mais emprego e mais direitos. Juro alto é aposta na recessão, na contramão do desenvolvimento", acrescentou Adi.

"Chegou a hora de reduzir os juros e acabar com o paraíso dos banqueiros e rentistas. Defendemos a regulamentação do Sistema Financeiro Nacional, para que ele seja parceiro da construção da mudança e não apenas um devorador das nossas vidas", declarou Vagner Freitas, que representou a CUT Nacional no evento.

Vagner defendeu a abertura de linhas de crédito para fomentar o desenvolvimento nacional e sublinhou que a CUT só acredita em "crescimento e desenvolvimento com distribuição de renda".

"Não vamos esperar o crescimento para depois dividir, pois isso seria acumulação de capital. Para vencer a crise é necessário fortalecer o mercado interno e a indústria nacional, gerando empregos com qualidade e não com rotatividade", frisou.

Ex-presidente da Contraf-CUT, Vagner lembrou que a categoria encerrou na segunda-feira uma greve vitoriosa de 21 dias, onde arrancou 9% de reajuste só após dobrar a intransigência dos bancos, que se colocam acima dos interesses da coletividade.

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sérgio Nobre, destacou que o ato conjunto "sela a unidade da produção contra a especulação". Ele saudou a militância cutista, que compareceu em grande peso à manifestação, e lembrou que é preciso unidade e mobilização para inverter a lógica rentista. "O Brasil joga fora todo ano R$ 250 bilhões com o pagamento de juros, o que é inaceitável. Menos juros é mais produção e mais emprego", declarou.

Nobre lembrou que o ABC está vivendo um drama devido aos juros abusivos que inviabilizam a produção, citando o exemplo da empresa exportadora de autopeças Magneti Marelli, que vai demitir mais de 500 trabalhadores, pois só tem encomendas até o final do ano.

O presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos, Paulo Kayres, defendeu a necessidade de romper com as amarras da especulação: "sem redução dos juros o Brasil não cresce, o dinheiro que está sendo drenado para os banqueiros precisa ser aplicado na produção".

Representando a Confederação das Mulheres do Brasil (CMB), Glaucia Morelli lembrou que "cada dígito da taxa de juros representa menos casa, menos creche, menos dignidade, menos saúde e menos empregos". "A presidenta Dilma iniciou a reduzis os juros, mas é preciso que eles caiam muito mais para o país seguir em frente", acrescentou.

Entre outros, fizeram uso da palavra em frente ao BC Ubiraci Dantas de Oliveira, da CGTB (Central Geral dos Trabalhadores do Brasil), Paulo Pereira da Silva, da Força Sindical, e Paulo Skaf, da Fiesp.

No debate ocorrido pela parte da manhã, o professor Márcio Pochmann, presidente do Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas), alertou para a urgência da redução dos juros, uma vez que o Brasil vem numa escalada de desaceleração econômica com o PIB podendo chegar a 2,7% este ano e em 2012 até ser negativo. "Por isso, tecnicamente, não há justificativa para praticarmos uma taxa de juro neste patamar. Se quisermos nos livrar do estigma de país subdesenvolvido, não podemos ter medo de ousar", sublinhou.

Conforme Antonio Correa Lacerda, economista da PUC-SP, países considerados desenvolvidos possuem inflação igual ou até superiores à brasileira, porém praticam taxa de juros menores. "Isso faz cair por terra a tese de que reduzir juros gera inflação".

Para o presidente do Sinal-SP (Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central), Aparecido Francisco de Sales, a sociedade brasileira precisa da regulação do sistema financeiro, uma vez que os bancos vêm desrespeitando até mesmo o preceito constitucional de atender aos anseios da coletividade. Para Sales, em vez de recessão, "a política do BC deve promover o desenvolvimento, a geração de empregos e a inclusão bancária".

O Sinal distribuiu no evento exemplares do livro A Regulamentação do Artigo 192: Desenvolvimento e Cidadania. No artigo está escrito: "O sistema financeiro nacional, estruturado de forma a promover o desenvolvimento equilibrado do País e a servir aos interesses da coletividade, em todas as partes que o compõem, abrangendo as cooperativas de crédito, será regulado por leis complementares que disporão, inclusive, sobre a participação do capital estrangeiro nas instituições que o integram". (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 40, de 2003).

Os estudantes voltam a protestar contra os juros altos nesta quarta-feira em frente ao BC.


Fonte: CUT

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