1 de Agosto de 2025 às 11:34
Movimento Sindical
Em 2024, os adoecimentos mentais se tornaram a principal causa de afastamentos na categoria bancária. A rotina profissional em bancos como Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica Federal, Itaú e Santander é marcada por metas abusivas, assédio organizacional, pressão constante, sobrecarga e medo do desemprego. O resultado é o aumento alarmante de transtornos mentais como depressão, ansiedade, síndrome de burnout e outras doenças ocupacionais.
Diante deste quadro, foi realizada nesta quinta-feira, 31 de julho, na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), a audiência pública “Sob Pressão: O Desafio da Saúde Mental no Trabalho Bancário” (assista aqui na íntegra).
Segundo Everton Espindola, secretário de saúde do Sindicato dos Bancários de Campo Grande-MS e Região, que participou da audiência pública, o adoecimento dos bancários é uma realidade evidente. No entanto, ele aponta que as instituições financeiras se esforçam para tornar esse sofrimento invisível.
“De diversas formas, as instituições financeiras insistem em alegar que o adoecimento mental tem origem no modelo de sociedade atual, e não na gestão das organizações e nas suas pressões por resultados. Isso se manifesta em metas abusivas e na desumanização dos processos, não apenas no relacionamento com o empregado, mas também com os clientes”, disse.
O secretário destaca que essa mentalidade ignora o aumento de afastamentos por doenças mentais. “O foco é o lucro, e, por isso, não se dá a menor importância aos afastamentos por doenças mentais, ao uso de remédios para sobreviver às pressões e, ainda pior, aos suicídios registrados na categoria. Fica cada vez mais visível que não há limites para a exploração dos trabalhadores e a ganância do capital”, destacou.
Neiva Ribeiro, presidenta do Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região, e uma das coordenadoras do Comando Nacional dos Bancários, destacou que muitas das milhares de respostas da Consulta Nacional à categoria bancária em 2025 focaram “no sofrimento mental, no adoecimento de quem já se afastou, de quem está sofrendo em silêncio ou está aguentando, porque sabe que esse sofrimento é o que garante a sua sobrevivência enquanto estiver batendo a meta, aguentando o assédio, o chefe abusivo, a gestão abusiva [...] As pessoas querem trabalhar com dignidade, com tranquilidade, mas o ambiente é realmente adoecedor.”
Valeska Pincovai, secretária de Saúde e Condições de Trabalho do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, expôs alguns números que reforçam o avanço do adoecimento mental nos bancos.
No estado de São Paulo, em 2024, a categoria bancária foi responsável por 72,30% de todos os acidentes de trabalho por doenças mentais; e de 51,77% de todos os benefícios;
No município de São Paulo, no mesmo ano, as doenças mentais nos bancários representaram 75,70% de todos os acidentes de trabalho e 56,10% de todos os benefícios. Os dados são do INSS;
Em 2024, o Sindicato dos Bancários de São Paulo atendeu 2.361 trabalhadores adoecidos por doenças psicológicas. Até junho de 2025, foram 1.183 atendimentos;
O Canal de Denúncias do Sindicato recebeu, em 2024, 518 denúncias só de assédio moral. Até junho de 2025, foram 236;
A pressão nos locais de trabalho gerou 105 denúncias em 2024, e 51 em 2025.
“Recentemente, por conta da pressão nos locais de trabalho, 45 bancários foram demitidos no Ceará por fraude em venda de consórcio. Esse é o desespero do trabalhador bancário, que tem de qualquer jeito bater a meta de venda. Então, se sujeita a qualquer negócio, muitas vezes engana uma pessoa para poder bater essa meta e não ser demitido”, denunciou Valeska.
Por meio da sensibilização do parlamento e da ampliação do diálogo com a sociedade, o objetivo da audiência foi o de avançar em um diálogo sério com os bancos, pressionando por mudanças estruturais que garantam um ambiente de trabalho mais saudável e digno, na defesa da saúde mental de quem trabalha para o sistema financeiro.
Foram definidas algumas propostas e estratégias para combater o problema, como a formação de um grupo de trabalho para articular ações junto a altas esferas governamentais; e cobrar do Ministério do Trabalho o aumento das fiscalizações para o cumprimento da legislação trabalhista.
“Essa fiscalização ajudará a Fundacentro e o Ministério Público do Trabalho para que a gente possa, com as informações, fazer o que fizemos com a LER/Dort na década de 90: Não só garantir que a saúde mental esteja dentro das estruturas das NRs, mas que tenhamos legislação suficiente sobre este tema”, enfatizou o deputado estadual Luiz Cláudio Marcolino (PT), propositor da audiência pública na Alesp.
Neiva destacou também o lobby dos bancos no Congresso Nacional e no Judiciário para seguirem sem responsabilização pelos adoecimentos causados pela forma de gestão.
“Uma boa parte dessa legislação vai passar pelo Congresso Nacional para ser regulamentada. Nós temos 130 deputados e deputadas ligados ao mundo do trabalho ou que votariam por uma convenção favorável aos trabalhadores. O restante dos 513 na Câmara defendem o capital privado, o empresariado e os bancos. A gente precisa mudar também a configuração do Congresso Nacional”, salientou.
Por: SP Bancário (com edição da Assessoria de Comunicação do SEEBCG-MS)
Link: https://seebcgms.org.br/noticias-gerais/sindicato-participa-de-audiencia-publica-que-expoe-gestao-adoecedora-dos-bancos/