6 de Março de 2020 às 10:17

Violência contra a mulher é tema de palestra promovida pelo Sindicato dos Bancários

Dia Internacional da Mulher

Em alusão ao Dia Internacional da Mulher, o Sindicato dos Bancários de Campo Grande-MS e Região promoveu, na noite dessa quinta-feira (dia 5), uma palestra para debater a violência contra as mulheres. A palestrante foi a advogada e militante do movimento Marcha Mundial das Mulheres, Fabiana Pereira Machado.

Na abertura, a presidente do SEEBCG-MS, Neide Rodrigues, salientou a importância da participação da categoria bancária e demais trabalhadoras em debates sobre o assunto. “Nós não poderíamos deixar essa data passar em branco. Precisamos dar valor a tudo que já conquistamos, principalmente no setor financeiro, mas também é necessário conquistar muito mais pelos direitos das trabalhadoras. Ainda há um grande índice de mulheres sendo atacadas e assediadas, e em nosso Estado não é diferente. Nós não podemos nos calar”, frisou.

O Brasil é o 5º país que mais mata mulheres no mundo. Em Mato Grosso do Sul, pelo menos sete mulheres já foram vítimas de feminicídio em 2020. Segundo dados do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, em 2019 o estado ocupou o 3º lugar no ranking dos estados com maiores índices de denúncia de violência contra a mulher no país.

 

Segundo a militante e advogada, Fabiana Pereira Machado, a violência contra a mulher é agravada dentro de uma sociedade sexista, que discrimina a mulher apenas por ser mulher.

“Quando uma mulher sofre assédio dentro do seu ambiente de trabalho, nós não estamos mais falando de uma violência comum. Em uma sociedade machista, a violência é uma forma de controlar a mulher, sua vida, corpo e sexualidade, cometida por um homem na sua condição de querer ser superior. Isso tudo acaba se tornando estrutural em nossa sociedade. A violência contra a mulher não tem camada social. Patriarcado não tem camada social, está em qualquer homem, independente de formação ou condição social”, afirmou.

De acordo com os dados do Instituto Maria da Penha, a cada 7,2 segundos uma mulher sofre violência física no Brasil. Esse número pode ser ainda mais agravante quando se trata de mulheres negras. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, entre 2017 e 2018, 61% das vítimas de feminicídio eram negras. Entre 2007 e 2017, a taxa de homicídio de mulheres negras cresceu 29,9%, enquanto a taxa para mulheres não negras cresceu 4,5%.

“As mulheres negras são as que mais sofrem violência: machismo com o racismo agrava essa situação, hipersexualizando os corpos das mulheres negras e as culpabilizando pelas violências. A desigualdade social e econômica e o racismo institucional acentuam esse problema”, pontua a palestrante.

Os agressores são homens, grupos de homens, instituições patriarcais e Estados. Mas 76,4% das mulheres que sofreram violência afirmam que o agressor era alguém conhecido, sendo 23% maridos e 15% ex-companheiros.

De acordo com a advogada, tem acontecido um verdadeiro desmonte do Estado com as políticas públicas para mulheres. Em 2016, o então presidente Michel Temer retirou o status de ministério da Secretaria de Políticas Públicas para as Mulheres (SPM), que perdeu recursos, autonomia e eficiência. A redução de orçamento para políticas públicas, congelamento de teto de gastos por 20 anos e as reformas trabalhistas e da previdência pioram o cenário. 

O gráfico abaixo mostra a queda brusca do orçamento do programa de proteção à mulher nos últimos anos:

“O governo reduz as nossas secretarias em defesa da mulher, o mesmo aconteceu com as secretarias de políticas de promoção de igualdade racial e dos direitos humanos. Temos uma ministra que diariamente foca em uma agenda anti-mulher, condena nossas mobilizações e nos leva para a marginalidade. A política de desarmamento também é algo que nos protege, a média de crescimento de homicídios pré estatuto do desarmamento era de crescimento de  5,44% ao ano. Os dados pós estatuto do desarmamento mostra que esse número caiu para 0,85% ao ano”, frisou Fabiana.

Conquista

Em 2012, foi instituída uma CPI para investigar situações de violência contra a mulher no Brasil. Com um dos piores índices de violência do país, Mato Grosso do Sul teve um enfoque maior na criação de políticas públicas em defesa da mulher. Conquistando, depois de muita luta, a primeira Casa da Mulher Brasileira do país.

“Recebemos toda uma comitiva de Brasília, fizemos um documento com o Ministério Público, movimentos de mulheres e organizações governamentais para denunciar as condições que as mulheres estavam submetidas aqui. Isso teve um peso significativo para a gente conseguir a primeira Casa da Mulher Brasileira no país.No ano passado conseguimos reduzir apenas um feminicídio no estado, quem sabe consigamos reduzir mais. Mas para isso precisamos que os investimentos continuem, esta é nossa luta agora”, enfatizou a advogada.

A Casa da Mulher Brasileira atende cerca de 1.300 a 1.500 mulheres por mês em Campo Grande. Mas de acordo com Fabiana, é preciso prevenir para não punir, investir em políticas públicas e educação que rompa com os papéis de gênero.

“Muitas não denunciam assédios por vergonha. Mas quando são apoiadas e ouvidas, conseguimos romper isso. Temos que resistir. Desnaturalizar a violência contra mulher, entender de onde vem para combater. A justiça pode ser eficiente, mas ela precisa ser acessada, a nossa Lei Maria da Penha é muito boa, precisamos nos apropriar dessas possibilidades de denúncia e fazer com que esses instrumentos sejam ainda mais eficazes, para evitar que esse ciclo de violência continue acontecendo”, finalizou.

Violência no setor bancário

Esta realidade também pode circundar trabalhadoras bancárias, já que a violência contra a mulher atinge todas as classes sociais. Pensando nisso, em fevereiro deste ano, o movimento sindical bancário conquistou a criação de um canal de atendimento às bancárias vítimas de violência.

Segundo a presidente do SEEBCG-MS, Neide Rodrigues, o sindicato se dispõe ainda a auxiliar mulheres vítimas de violência.

“É extremamente importante e necessário fazer um canal de atendimento às mulheres vítimas de qualquer tipo de agressão. O sindicato está aberto para receber essas mulheres e apoiá-las, orientando juridicamente e politicamente. Estamos inseridos na luta com mulheres de todas as categorias. Todas juntas em todos os segmentos somam forças para acabar com as estatísticas de violência que só crescem”.

Em 60 anos de fundação do SEEBCG-MS, Neide Rodrigues é a segunda mulher a conquistar o cargo de presidência. De acordo com Neide, é preciso que as mulheres ocupem os espaços.

“Não é fácil estar na política, no início nós tínhamos muita dificuldade em dialogar em um ambiente majoritariamente masculino. Com o tempo fomos conquistando nossos espaços, temos cada vez mais diretoras na executiva, debatendo e lutando pelos direitos da categoria”, comentou.

 

Durante o evento, a presidente do sindicato, a secretária de Esportes e Lazer, Patrícia Bilac, e a secretária de Administração e Patrimônio do SEEBCG-MS, Luciana Rodrigues, foram as homenageadas da noite.

“Um evento como esse é muito importante, quanto mais palestras e diálogos tivermos sobre o assunto, melhor. Muitas vezes a mulher é assediada ou sofre violência e não tem o conhecimento de que aquilo é assédio. Fazer esse tipo de diálogo com as bancárias é uma forma de conscientização”, afirmou Patrícia Bilac.

 

Dados de uma pesquisa de 2019, mostram que 22 milhões de mulheres sofreram algum tipo de assédio nos últimos 12 meses, sendo 11,5% no ambiente de trabalho (6 milhões de mulheres).

Além da categoria bancária, também participaram da palestra representantes do Sindicato dos Trabalhadores dos Correios em MS, Sindicato dos Trabalhadores na Indústria e Comércio de Energia no Estado de MS, Central Única dos Trabalhadores de MS, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, Grupo TEZ/MS ( Trabalho Estudos Zumbi), Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Carnes e Derivados de Campo Grande e Movimento Marcha Mundial das Mulheres.

Após a palestra, foi realizado um coquetel, com música ao vivo, em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, celebrado em 8 de março.

Por: Daiana Porto/Assessoria de Comunicação do SEEBCG-MS
Fotos: Reginaldo de Oliveira/Martins e Santos Comunicação

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