12 de Janeiro de 2009 às 11:53

Valor: prejuízo do Citi deve superar previsões

O prejuízo do Citigroup Inc. no quarto trimestre promete ser bem maior do que analistas previam, mas o principal conselheiro independente do banco disse que o grupo não está perdendo a fé no diretor-presidente, Vikram Pandit. “Temos confiança na atual direção e liderança de Vikram”, disse Richard Parsons, um ex-presidente da Time Warner Inc., em entrevista ao Wall Street Journal ontem. “Não há fundamento” nos rumores de que o cargo de Pandit está em risco apenas um ano depois de assumir o grupo, acrescentou. Parsons deve ser nomeado presidente do conselho do Citigroup este mês, substituindo Win Bischoff, dizem pessoas ligadas à companhia.
 
A demonstração de apoio ocorre quando executivos e conselheiros do Citigroup lidam com uma variedade de possibilidades que podem resultar em mudança drástica na companhia, que tem sido abalada por perdas com empréstimos para empresas e indivíduos. Com mais de 300 mil empregados em mais de 100 países, o Citigroup é uma das maiores instituições financeiras do mundo. Mas a companhia entrou em dificuldades, e seu valor de mercado de aproximadamente US$ 37 bilhões fica atrás do de rivais menores como o U.S. Bancorp. Inc.
 
Pandit e sua equipe, sedentos para liberar capital e saciar investidores e autoridades que querem ações drásticas, devem desmembrar sua lucrativa divisão de corretagem Smith Barney numa joint venture com o Morgan Stanley, um concorrente e alma-mater de Pandit, dizem pessoas familiarizadas com a questão. Essas pessoas dizem que esse acordo deve ser anunciado esta semana e poderia trazer ao Citigroup um pagamento em dinheiro de pelo menos US$ 2,5 bilhões. Membros do conselho de ambas as companhias devem votar o acordo hoje. Uma porta-voz do Citigroup recusou comentários para este artigo.
 
O Citigroup deve anunciar um prejuízo operacional de US$ 10 bilhões ou mais quando divulgar o balanço do quarto trimestre dia 22, segundo pessoas a par da questão. Essas pessoas alertaram que esse valor preliminar pode mudar, à medida que os executivos finalizem a contabilidade. O prejuízo líquido do Citigroup deve ficar mais perto de US$ 6 bilhões, devido a um ganho extradordinário de US$ 4 bilhões com a venda de sua subsidiária alemã de banco de varejo, um negócio fechado no ano passado. Esse seria um prejuízo muito maior do que a expectativa de analistas de Wall Street, que têm previsto uma perda de US$ 4,1 bilhões. Não está claro se a previsão dos analistas inclui o ganho com a venda da empresa alemã.
 
O prejuízo no quarto trimestre seria o quinto consecutivo do Citigroup e faria com que as perdas acumuladas em 2008 superassem os US$ 20 bilhões. Seria também o maior prejuízo na história do Citigroup. O maior até agora é o do quarto trimestre de 2007: US$ 9,8 bilhões.
 
O Citigroup, formado em 1998 com a fusão do Travelers Group e o Citicorp, foi pioneiro do modelo de “supermercado financeiro”, cujo objetivo é oferecer a mais abrangente possível variedade de produtos financeiros. Mas o Citigroup nunca conseguiu aproveitar todo o potencial do modelo. Diferentes partes do conglomerado geralmente colidem. Executivos têm tido dificuldade para acompanhar os riscos que surgem nos vários cantos da companhia.
 
Pandit prometeu finalmente integrar a companhia, melhorar a cooperação interna e reforçar a gestão de risco. Mas depois de 13 meses no cargo, mudou de rumo. Sua decisão de desfazer-se da Smith Barney reflete a percepção cada vez mais forte, tanto dentro da companhia como no governo americano, de que o Citigroup pode simplesmente ser grande demais para se administrar e regulamentar eficientemente.
 
De dezembro para cá, autoridades americanas ficaram mais preocupadas com a possibilidade de que Pandit não tivesse uma estratégia suficientemente drástica para estabilizar a companhia, e instruíram a equipe dele a elaborar um plano de enxugamento, dizem pessoas familiarizadas com as conversas. O iminente prejuízo do quarto trimestre aumentou o senso de urgência dentro do Citigroup. Diretores e membros do conselho também pensam assim. “Há outras divisões de que deveríamos provavelmente estar mais dispostos a nos desfazer”, disse um executivo graduado.
 
Entre as divisões que podem ser postas à venda estão as de crédito ao consumidor, como a Primerica Financial Services e a CitiFinancial, assim como as de corretagem de varejo internacional e a operação de cartões de crédito emitidos por terceiros nos Estados Unidos, disseram essas pessoas. Pandit espera anunciar mudanças estruturais adicionais junto com os resultados do quarto trimestre, na semana que vem. Na reunião marcada para hoje, espera-se que o conselheiros do Citigroup discutam essas e outras mudanças estruturais, dizem pessoas a par do assunto.
 
O aumento dos problemas do Citigroup intensificou a pressão sobre Pandit, que assumiu a presidência executiva em dezembro de 2007. Ele não foi capaz de estancar a sangria financeira, apesar de uma injeção de capital público de US$ 45 bilhões em novembro que deixou o governo americano como maior acionista do conglomerado.
 
O pagamento em dinheiro com a venda da Smith Barney não seria o único benefício do negócio. Diretores do Citigroup esperam contabilizar um ganho antes dos impostos adicional de até US$ 10 bilhões com a reavaliação contábil da joint venture, disse uma pessoa. Mas isso provavelmente não vai acalmar autoridades, conselheiros, investidores e empregados ansiosos.
 
Ao mesmo tempo, o conselho do Citigroup está em mutação. Na sexta-feira, o assessor especial e membro do conselho Robert Rubin, um dos mais firmes aliados de Pandit no grupo, anunciou sua aposentadoria. Nas próximas semanas, acredita-se que Parsons vai substituir Bischoff. Alguns conselheiros acreditavam que Bischoff, um veterano banqueiro de investimento que foi escolhido para a presidência do conselho pouco mais de um ano atrás, não estava exercendo um papel suficientemente ativo na supervisão da diretoria e da direção estratégica do Citigroup, disseram as pessoas. Parsons deixou a presidência do conselho da Time Warner no mês passado.
 
Com investidores e autoridades pressionando por uma reforma maior do Citigroup, espera-se que vários membros do conselho saiam antes da assembléia geral ordinária do banco, em alguns meses, segundo pessoas a par da questão.
 
Por trás do prejuízo do quarto trimestre estão as mesmas forças que surraram outros bancos em todos os EUA. Dezembro foi um “mês brutal” para o Citi, disse uma pessoa familiarizada com o assunto. A deterioração da economia americana tem se traduzido em forte aumento da inadimplência em créditos a empresas e pessoas físicas de dezenas de bilhões de dólares, especialmente os atrelados ao mercado imobiliário. Pela primeira vez desde 1990, todo o sistema bancário americano deve registrar um prejuízo líquido trimestral.
 
Além disso, o Citigroup revelou na semana passada que arcará com uma despesa extraordinária de US$ 1,4 bilhão para cobrir perdas com empréstimos à LyondellBasell Industries AF, uma fabricante holandesa de químicos cuja subsidiária americana pediu concordata recentemente. Embora o Citigroup tenha conseguido, no ano passado, vender cerca de US$ 2 bilhões de créditos da Lyondell à firma de private equity Apollo Management LP, o banco acabou ficando com bilhões de dólares em créditos cujo recebimento é menos prioritário, que têm menos probabilidade de ser pagos com a Lyondell em concordata, disseram pessoas a par da questão.
 
Pandit parece reconhecer que precisa agir rápido para produzir resultados rapidamente.
 
Este mês, ele tem dito a colegas que o Citigroup tem de registrar um lucro no atual trimestre para reconquistar a confiança de empregados, investidores e autoridades. “A companhia precisa mostrar que seu modelo de receita e despesas pode ser lucrativo neste ambiente”, disse recentemente a um pequeno grupo de executivos, segundo uma pessoa que ouviu os comentários.
 

David Enrich, do The Wall Street Journal, com colaboração de Aaron Lucchetti e Robin Sidel, para o Valor Econômico
 

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